Em um contexto de degradação de políticas ambientais, a Educomunicação é uma ferramenta importante no desenvolvimento de uma relação consciente e sustentável com o meio ambiente. Esta foi uma das reflexões da live da ABPEducom sobre Educomunicação Socioambiental, que reuniu Gabrielle Weber, cientista molecular e professora da Escola de Engenharia de Lorena (EEL/USP), Rafael Gué Martini, conselheiro da Associação e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), e Beatriz Truffi Alves, especialista ambiental na Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Assista à gravação completa no vídeo abaixo.

Realizado em 3 de novembro e mediado por Paola Prandini (diretora cultural da ABPEducom) e Maurício Virgulino (associado), o encontro virtual abordou a necessidade de elaborar projetos educomunicativos que engajem a população não apenas por meio do acesso à informação, mas principalmente da produção de conteúdos. Em uma síntese desse preceito, Martini citou o lema “fazer com, e não para”, enfatizando que o aprendizado é efetivo quando insere os sujeitos em questões pertencentes a sua própria realidade. 

Segundo o professor, que atua há anos em diversos projetos socioambientais, “a informação da qual nos alimentamos é muito importante para que possamos editar o mundo da forma mais adequada”. Nesse sentido, Alves, que também é associada da ABPEducom, defendeu que a compreensão da realidade é fundamental para o enfrentamento dos problemas pertencentes a ela. “A Educomunicação tem o papel de incentivar a leitura crítica da situação, do contexto em que estamos”, afirmou.

Já para Weber, a divulgação de pesquisas científicas é uma estratégia pertinente no combate ao descrédito da ciência, que ocasiona problemas como a negação de mudanças climáticas e o movimento antivacina. A cientista, que é coordenadora do projeto Mamutes na Ciência, da EEL/USP, também enfatiza a necessidade de desmistificar campos de conhecimento dos quais a população está distante, como a biologia e a química, e que contribuem para o entendimento da realidade. 

Projetos educacionais

Ao longo da conversa, os convidados citaram exemplos práticos de como as informações podem ser compartilhadas de maneiras diversas. Weber contou como, no contexto da pandemia, o Mamutes na Ciência se adaptou a atividades remotas e se tornou um podcast, chamado MamuCast. A professora também defende o ensino científico por meio de jogos, já tendo desenvolvido dois “Jedai”, sigla para “jogos educacionais desenvolvendo aprendizagem interativa”.

Após recomendar a leitura do texto-base do Programa de Educomunicação Socioambiental, lançado em 2005 e atualizado em 2008, Martini relatou como a implementação desta política nacional desencadeou a inclusão das práticas educomunicativas em projetos socioambientais. Tendo participado de iniciativas de preservação marítima, como o Memórias do Mar, Babitonga Ativa e Horizonte Oceânico Brasileiro (HOB), ele relatou a necessidade de adaptação das atividades à realidade local, com o objetivo de engajar a população. O projeto Meros do Brasil, por exemplo, recorreu à literatura de cordel para contar a história do peixe mero, conectando-o à mitologia de cada comunidade.

Reforçando o impacto da divulgação científica na criação de políticas públicas, Alves citou que, dentre os 21 estados brasileiros que têm políticas de educação ambiental, seis deles incluíram práticas educomunicativas, como “processos pedagógicos dialógicos, que falem da autonomia e garantam a participação”.

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