Texto: Bruno Ferreira

Considerar crianças, adolescentes e jovens como sujeitos de direito é revolucionário. Entendê-los como agentes de transformação, que têm direito de se expressar com liberdade, transforma a lógica bancária e autoritária de educação, que ainda é hegemônica. Nesse sentido, o trabalho de movimentos e organizações sociais junto ao público infanto-juvenil têm sido de grande importância na proposição de novas maneiras de mobilizar e fomentar a participação política desses atores, para que estes possam atuar na sociedade de modo crítico e interventivo. Por conta da relevância do trabalho educomunicativo de iniciativas dessa natureza, o II Congresso Internacional de Comunicação e Educação terá um painel dedicado a discutir trajetórias educomunicativas de ativismo social juvenil, em 13 de novembro de 2018.

Um dos participantes do debate será Paulo Lima, diretor executivo e fundador da Viração Educomunicação, organização social de São Paulo que atua há 15 anos pelo direito humano à comunicação de adolescentes e jovens. A Vira, como é carinhosamente conhecida, é um grande case de sucesso para os estudos da área. Muitos pesquisadores imergiram na organização, adotando-a como objeto de estudo, seja em razão de suas metodologias que transformam a percepção dos jovens de si mesmos e da vida em sociedade, seja por conta de sua gestão democrática, também alicerçada nos princípios educomunicativos. Isso porque, para Paulo Lima, a Educomunicação é como um “ar que a gente respira”.

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Paulo Lima conta que havia, em 2003, ano de nascimento da Viração, um movimento articulado por uma mídia livre no Brasil, que enxergava possibilidades de realizar um grande trabalho de mídia alternativa com ampla participação juvenil, ideia em coerência com a proposta de governo popular que então imaginava-se para o país.

“Muito humildemente a gente procurou dar essa contribuição e nesses 15 anos isso aconteceu, pois algumas propostas de política pública, no campo da cultura, por exemplo, surgiram a partir de experiências desencadeadas pela Viração”, explica Paulo. “Um exemplo disso, no caso do Ministério da Cultura, foi o lançamento de um edital para favorecer pontos de mídia livre ou pontos de cultura e isso foi uma grande conquista do movimento midialivrista, e a Viração foi uma das promotoras desse tipo de comunicação”.

Muita coisa mudou ao longo da história da organização. No início das atividades da Viração, as redes sociais ainda não existiam. “Havia a preponderância do mundo do papel”, diz Paulo. Assim, foi criada a Revista Viração como instrumento de participação juvenil, “um projeto social impresso”, no qual adolescentes e jovens são autores de narrativas sobre suas realidades.

Parafuso: imagem e Educomunicação

Quase uma década após o surgimento da Viração, outras iniciativas de Educomunicação surgem nacionalmente e amplificam o trabalho de engajamento de adolescentes e jovens brasileiros. É o caso do coletivo Parafuso Educomunicação, de Curitiba, que atua especialmente com produção audiovisual e fotografia junto à juventude paranaense. Recentemente, o coletivo conquistou o primeiro lugar no Prêmio Funarte, um dos principais do país que reconhece iniciativas de arte e educação no país. O projeto Click Parafuso, desenvolvido no Assentamento Contestado, em Lapa (PR), foi o único a receber nota 100 da comissão julgadora.

A jornalista Juliana Cordeiro, co-fundadora do coletivo, também participará do painel sobre Educomunicação e ativismo social juvenil do II Congresso Internacional de Comunicação e Educação. Ela explica que a promoção do ativismo juvenil pela Parafuso se dá de diferentes formas. A primeira é na promoção de projetos educomunicativos, a partir dos quais se exploram linguagens da comunicação e da cultura a fim de estimular a reflexão de adolescentes e jovens sobre suas identidades e territórios e para que esses sujeitos identifiquem e valorizem personagens em suas comunidades, retratando-os em produtos audiovisuais. Foi o que fizeram no âmbito do projeto Click.

Outra atividade promovida pelo coletivo é o cine-debate, no âmbito do projeto Afroeducom, que alia cinema, educação e debate sobre questões étnico-raciais dentro de uma escola pública de periferia, numa comunidade de Curitiba chamada Vila Verde. “Os estudantes fizeram um videoclipe sobre uma ocupação dos estudantes na escola, fizeram entrevistas que contam a história da comunidade. São narrativas, a partir do audiovisual, com quais os adolescentes acabam participando da vida comunitária”, explica Juliana.

A participação juvenil também é estimulada pelo coletivo a partir da incidência em espaços de decisão e discussão sobre políticas públicas, em que a Parafuso prepara adolescentes para participar de conselhos de direito de crianças e adolescentes. “Nessa linha, a Parafuso cria projetos de ações em que os adolescentes são incentivados a contribuir com propostas de políticas públicas”, diz Juliana. Nos projetos Educomunica Paraná e Educomunica Curitiba, idealizados pelo coletivo, adolescentes escutaram diferentes atores sociais que estiveram presentes nas conferências dos direitos da criança e do adolescente e, a partir desse processo, produziram conteúdos sobre direitos humanos.

A última linha de atuação da Parafuso Educomunicação é a de incidência política no Conselho de Direitos Humanos do Estado do Paraná, e de interlocução em conselhos e fóruns que, em âmbito estadual, dedicam-se a discutir direitos dos mais jovens. “Para esses espaços, a gente leva a bandeira de participação social de crianças e adolescentes. Buscamos respostas do poder público sobre como inserir os adolescentes e cobrar respostas de conferências. A Parafuso acaba intermediando esse diálogo, tentando ampliar a participação de crianças e adolescentes”, explica Juliana.

 

Serviço

O painel “Ativismo social juvenil: trajetórias de práticas educomunicativas” acontecerá em 13 de novembro, das 13h30 às 16h15, na ECA/USP. Outros participantes que estarão presentes para contribuir com a reflexão do tema e compartilhar experiências são: Stéphanie Habrich, do Jornal Joca, de São Paulo; Verônica Cannatá (Colégio Dante Alighieri) e Lucilene Varandas (CEU Casa Blanca), do projeto Educom.geraçãocidadã, de São Paulo; e Célio Alves Ribeiro, do Projeto Canaan, de Trairi (CE).

As inscrições para o II Congresso Internacional de Comunicação e Educação e VIII Encontro Brasileiro de Educomunicação, que vai de 12 a 14 de novembro, podem ser feitas pelo site www.abpeducom.org.br/congresso. As vagas são limitadas e há desconto para inscrições antecipadas.

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