A produção acadêmica relativa a atividades de educação midiática tem conquistado mais espaço no Brasil e no mundo. Em novembro de 2020, a comunicadora portuguesa Maria José Brites, associada da ABPEducom e professora da Universidade Lusófona do Porto, lançou o livro virtual “DiCi-Educa: Experiências e reflexões sobre cidadania digital”, editado em parceria com a pesquisadora Teresa Sofia Castro e publicado pela Edições Universitárias Lusófonas, de Lisboa. A obra também está disponível em inglês.

Disponibilizado gratuitamente e dividido em quatro partes, o e-book traz reflexões sobre a metodologia e os resultados do projeto “Centros Educativos com Competências Digitais e Cívicas” (DiCi-Educa), iniciado em 2019 junto à Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) de Portugal. A formação oferece oficinas de fotografia, podcast e vídeo a jovens de 14 a 18 anos que cumprem medidas socioeducativas no país, preparando os participantes para a reinserção em uma sociedade altamente midiatizada.

Unindo a oferta de conhecimento técnico à construção de habilidades socioemocionais, o DiCi-Educa trabalha aspectos como comunicação, pensamento criativo e resolução de problemas. As formações articulam os aprendizados com as temáticas sociais concernentes à realidade dos participantes. Como explica o segundo capítulo do e-book, a didática do projeto é guiada pelo preceito freiriano de que os indivíduos refletem criticamente sobre os problemas que os cercam quando criam conteúdos. 

Nesse sentido, o livro compila artigos que passam por temas como o caráter educacional do jornalismo, os desafios de ensinar cidadania digital em ambientes com pouco acesso a equipamentos e à internet, as possibilidades do trabalho com fotografia, som e vídeo 360° e a criação de um jogo para incentivar os jovens à reflexão sobre o ambiente virtual.

Recomendando a leitura, o professor Ismar Soares, presidente da ABPEducom, defende que, “ainda que não faça referência expressa à Educomunicação, o livro pode ser considerado uma efetiva contribuição para a prática educomunicativa, em atividades relacionadas com o mundo virtual”.

Outras propostas de cidadania digital

Além das três primeiras partes voltadas para o DiCi-Educa, o e-book aborda outras experiências semelhantes. No capítulo “Projeto Nossas Vozes: Comunicação e Cidadania no contexto da socioeducação”, Cristiane Parente, sócia-fundadora da ABPEducom, compartilha as vivências do projeto de extensão realizado por pesquisadores, comunicadores e estudantes da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). 

Também voltado a adolescentes em situação de conflito com a lei, o Nossas Vozes promoveu atividades de alfabetização midiática e informacional entre jovens de 12 a 17 anos, moradores de Itapoã e de Paranoá, no Leste do Distrito Federal. Por serem de regiões com baixos índices de escolaridade e de acesso à internet, os participantes vivem uma realidade de exclusão digital e falta de acesso e participação nos processos de comunicação.

Como escreveu Parente, “projetos como esse buscam potencializar as qualidades de cada um dos jovens envolvidos e estimular que cada um se reconheça como sujeito de direitos e deveres que podem, a partir da compreensão da cidadania, usar a comunicação para melhorar o seu contexto”.

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