O combate à desigualdade racial passa pela promoção de uma Educomunicação antirracista e de uma produção midiática plural. Esta foi uma das conclusões da live sobre Educomunicação, raça e gênero, realizada pela ABPEducom no contexto do Mês da Consciência Negra, celebrado em novembro. A conversa teve a mediação do educomunicador Sidnei Souza e contou com a presença de Sátira Pereira Machado, professora e assessora de Educomunicação da Reitoria da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), e Lucas Valentim, monitor no Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes, mantido pela Prefeitura de São Paulo. Assista à gravação completa no vídeo abaixo.

Realizado no último dia 17, o encontro reforçou a importância de resgatar histórias da negritude e abordar a temática para além da escravidão, mostrando que a população negra é basilar na formação social, cultural e econômica do Brasil. Segundo Valentim, a educação brasileira falha em fazer um traçado histórico do povo negro, deixando de abordar com profundidade a vivência africana antes da diáspora forçada. 

“É importante desconstruir esse processo nas escolas e enfatizar as conquistas civis do movimento negro”, afirma o jovem, realçando também a ausência de intelectuais pretos e pretas em bibliografias da educação básica e superior. É com a mitigação destas lacunas que a professora Machado trabalha, já tendo percorrido o estado do Rio Grande do Sul realizando sensibilizações acerca das temáticas de gênero e raça sob a perspectiva educomunicativa.

A educadora gaúcha foi curadora do Projeto RS Negro, publicado em formato de livro e, em seguida, expandido para um kit educomunicativo que passa por revistas, documentário, CD, entrevistas e pôsteres. Com o objetivo de ampliar as representações do continente africano e dos afrodescendentes, bem como de incentivar a inclusão desses conhecimentos na rede de ensino, o projeto resgata histórias esquecidas, como a revolução do Haiti, o movimento La Négritude (corrente literária liderada por francófonos), a dinastia dos faraós negros e a contribuição intelectual de Abdias Nascimento e Lélia Gonzales.

Consciência Negra

Machado relembra o movimento que levou à oficialização do Dia da Consciência Negra em 20 de novembro, em homenagem a Zumbi dos Palmares, morto nesta data em 1695. A professora estudou a vida e obra do poeta negro e gaúcho Oliveira Silveira, que desempenhou um papel fundamental nesta história ao negar a celebração do 13 de maio, dia da abolição da escravatura, e convidar a população a participar das comemorações de novembro. 

A valorização da segunda data sobre a primeira simboliza a resistência negra e reflete a precariedade da Lei Áurea, que, como destacou Valentim, não forneceu educação, moradia, saneamento básico e emprego à população liberta. O dia 20 foi celebrado pela primeira vez em Porto Alegre, em 1971, no Clube Social Negro Marcílio Dias – uma das evidências físicas da segregação racial, já que as pessoas negras eram impedidas de frequentar os espaços de socialização. Por sua importância no estado e no Brasil, Silveira foi objeto de um projeto de pesquisa liderado por Sátira Machado que resultou em um site que compila os feitos do poeta

Destacando que a democratização da comunicação é fundamental na busca por igualdade social, Machado enfatiza o valor da “produção de sentido” por meio de projetos educacionais e da mediação tecnológica. “Estamos num momento de produção midiática plural e isso faz toda a diferença”, afirma a educadora, otimista.

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