A busca por equidade na educação passa pela construção de um sistema educacional inclusivo, nacionalmente estruturado e que não deixa ninguém de fora. Foi com esta reflexão que Liliane Garcez, consultora em políticas públicas de educação, abriu a conversa sobre Educação Especial Inclusiva e Educomunicação. O bate-papo, que faz parte do ciclo de lives da ABPEducom, contou também com a presença de Alexandre Moreira, educomunicador e membro do Coletivxs, e Márcia Martinelli, educadora há 28 anos. Assista à gravação completa no vídeo abaixo.

Com mediação dos sócios da ABPEducom, Paola Prandini (diretora cultural) e Mauricio Virgulino, a live foi promovida em 20 de outubro, no contexto da aprovação da Política Nacional de Educação Especial (Decreto 10.502/2020). O decreto, que incentiva a matrícula de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotação em escolas especializadas, foi considerado discriminatório por estigmatizar e segregar esses alunos.

Ao longo da conversa, os convidados reforçaram a importância de romper com o capacitismo, por meio da criação de projetos pedagógicos que promovam diferentes possibilidades de participação, indo além dos limites do texto e da oralidade, por exemplo. Segundo Moreira, a Educomunicação oferece estratégias oportunas para a construção deste caminho, ao elaborar processos educativos multissensoriais e com diferentes formatos de comunicação.

Incentivo ao protagonismo

O debate passou por conceitos fundamentais, como o protagonismo das pessoas com deficiência, que precisa ser viabilizado por meio da acessibilidade. “É um dever do educomunicador mapear as barreiras que podem comprometer a participação plena de qualquer pessoa, tendo ela uma deficiência ou não”, afirma Moreira. A superação dessas barreiras deve acontecer a partir da consulta às pessoas envolvidas no processo. Ele deu um exemplo simples de como isso pode ser feito: ao planejar um evento, é necessário perguntar se os participantes precisam de algum suporte. 

As práticas implementadas por Martinelli na rede municipal de São Paulo exemplificam os benefícios da promoção de protagonismo por meio de processos educomunicativos. Especialista em educação especial, a pedagoga teve diversas experiências com o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para incentivar a aprendizagem e sociabilidade dos alunos. Além da criação de blogs e inserção em mídias sociais, ela realizou atividades pedagógicas com o auxílio de ferramentas como o Dosvox, o Falador e o ABC Bebelê

Em 2008, Martinelli foi professora de Matheus, um aluno autista cujas necessidades a incentivaram a estudar Educomunicação e buscar novas formas de ensinar. Apesar de enfrentar resistência de pessoas que defendiam a separação de estudantes com deficiência, a educadora passou a trabalhar a aprendizagem e a alfabetização de Matheus por meio de vídeos, músicas e jogos, e também criou um blog pelo qual o aluno pôde expressar sua voz, seus interesses e conhecimentos.

Nesse sentido, a busca por inclusão passa também pela necessidade de ampliação do repertório de conhecimentos por parte de pessoas sem deficiência. Para exemplificar esse esforço, Garcez citou um caso exitoso de Jaboatão dos Guararapes (PE), onde há o ensino de Libras para todos os alunos da rede municipal. “Se a gente se dispõe a aprender inglês e espanhol, por que não Libras?”, provoca.

A especialista avalia também que, ao financiar espaços segregados, o decreto impede que as pessoas sem deficiência aprendam com as barreiras enfrentadas por aquelas com deficiência, como as impostas pela falta de acessibilidade ou dificuldades de comunicação. Como consequência, perde-se a “oportunidade de melhorar os nossos repertórios e nossos instrumentos de comunicação, interação e aprendizagem em relação aos nossos estudantes”.

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