Em constante interação com o ambiente digital, crianças e adolescentes estão intensamente expostos a conteúdos nocivos e enviesados – principalmente em tempos de distanciamento social. Com isso em mente, o Instituto Palavra Aberta, organização que trabalha pela defesa da liberdade de expressão, lançou no fim de 2020 o Guia da Educação Midiática, um e-book pensado para promover a fluência digital, a leitura crítica da mídia, o combate à desinformação e a participação responsável na internet.
Disponibilizado para download gratuito, o livro é um material de apoio do Educamídia, programa do Palavra Aberta que foi criado para levar capacitação em educação midiática a professores e organizações de ensino. Nesse sentido, a publicação, de autoria de Mariana Ochs, Daniela Machado e Ana Claudia Ferrari, oferece conceitos, reflexões e exemplos práticos para que educadores trabalhem com os alunos as habilidades necessárias para uma inclusão digital plena, segura e cidadã.
Citando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o e-book defende a implementação da educação midiática no currículo escolar de maneira transdisciplinar, sendo ensinada como parte integrante de outras matérias e como ferramenta que amplia as possibilidades de trabalho em aula. A BNCC é formada por 10 competências gerais e possui componentes da educação midiática, em especial nas competências de número 5, que trata do uso crítico e reflexivo das tecnologias, e 7, que aborda a necessidade de informações confiáveis na argumentação e tomada de decisões.
Educação midiática na prática
Ciente de que a construção de conhecimento é concretizada com atividades práticas e de que esse processo extrapola a transmissão unilateral de informações pelos educadores, o guia oferece 15 propostas pedagógicas para engajar os estudantes ativamente em sala de aula e fora dela. Além dos exemplos, o Educamídia elaborou um método fundamentado em quatro eixos – tema, ação, mídia e reflexão – para inspirar o planejamento dos professores.
A partir de situações como enchentes em áreas urbanas, aquecimento global, racismo e movimento antivacina, o livro instiga os educadores a pensarem no objetivo curricular, nas habilidades a serem trabalhadas e no objetivo midiático de cada atividade. Outro ponto importante e que demonstra o cuidado do guia com os interesses e vivências dos alunos é a variedade de plataformas e meios utilizados: vale trabalhar com meme, post em rede social, notícia, propaganda – qualquer formato que comporte uma mensagem.
O livro também inclui, no fim de cada proposta, o tópico “da compreensão à ação”, com sugestões de como incentivar os alunos a serem sujeitos de participação ativa na sociedade. Segundo o guia, o intuito da educação midiática é capacitar pessoas ao exercício contínuo de leitura crítica da mídia, prontas a combater informações falsas e discursos de ódio, escapar das bolhas informacionais e ter responsabilidade no compartilhamento de conteúdos.
Conhecer para Defender
Outra iniciativa do Instituto Palavra Aberta no combate à desinformação é a websérie Conhecer para Defender. Com cinco vídeos curtos, a iniciativa destrincha as etapas de produção do trabalho jornalístico, mostrando depoimentos de jornalistas como Antônio Gois, colunista do jornal O Globo, e Thais Folego, editora da Revista AzMina.
A websérie parte da definição do significado de notícia e do fazer jornalístico, para então mostrar o processo de criação de pautas, a apuração de uma reportagem, o relacionamento com fontes, a edição e a checagem de informações. Um dos vídeos também aborda as vantagens e dificuldades impostas pela internet, bem como a necessidade de os leitores e espectadores fazerem leituras críticas da mídia, buscando fontes diversas e confiáveis.
Em entrevista à Revistapontocom, Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, explica que a websérie assumiu a missão de, além de trazer compreensão acerca da função e do funcionamento do jornalismo, atuar como ferramenta de educação midiática. Nesse sentido, os vídeos podem ser utilizados como material de apoio em aulas que abordem o campo jornalístico-midiático da BNCC. Segundo Blanco, “para desenvolver de forma plena as competências críticas e as habilidades socioemocionais, a educação não deve ter como foco transmitir somente o que é um outro conceito e, sim, desenvolver a análise crítica não só da mídia, mas também da informação em si”.