O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi comemorado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no dia 3 de maio, com uma sessão solene intitulada “Information as a Public Good” (Informação como um Bem Público) que uniu duas bandeiras: a liberdade de expressão e a educação midiática, incluindo a Educomunicação.

O encontro virtual constituiu-se de um painel aberto pelo secretário geral da ONU, Antonio Gutierres, e que contou com a contribuição de quatro especialistas: Andrejs Pildegovičs, embaixador da Letônia junto à ONU; Julie Posetti, pesquisadora da Austrália; Disha Shetty, pesquisadora da Índia; e Alexandre Le Voci Sayad, jornalista do Brasil, conselheiro da ABPEducom e codiretor global da aliança de Alfabetização Midiática e Informacional (AMI, ou MIL na sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

O evento, que também marcou o aniversário de 30 anos da Declaração de Windhoek, foi coordenado por Ramu Damodaran, chefe acadêmico do Departamento de Comunicações Globais (DGC) da ONU.

A íntegra da transmissão está disponível no site da ONU.

 

Sayad: relação simbiótica

Em sua intervenção, Alexandre Sayad abordou a liberdade de imprensa e a educação para as mídias como uma “relação simbiótica”:

É importante observar que, assim como o jornalismo desempenha um papel fundamental para garantir o fluxo livre de informações, a MIL garante que todos os cidadãos sejam capazes de lidar com ele. Trata-se de “saber selecionar fontes, ler, analisar, organizar e também produzir informações com clareza, proatividade e discernimento. Isso é possível graças a um conjunto de competências fundamentais para a cidadania, hoje, como curadoria da informação, fluência e ética digital, comunicação comparada e organização informacional”.

Segundo Sayad, a organização que ele próprio preside – a ZeitGeist – trabalha esta relação simbiótica entre jornalismo e educação midiática a partir dos pressupostos da Educomunicação, “um conceito latino-americano que abre espaço para a expressão das minorias, reunindo pensamentos de acadêmicos como Ismar Soares [presidente da ABPEducom] e Paulo Freire”. Nessa perspectiva, “o que caracteriza Educomunicação é a participação dos sujeitos nos processos que interrelacionam mídia e educação”.

ABPEducom e a aliança pela AMI

Sayad lembrou a importância da formação de uma aliança global da Unesco para a promoção da Alfabetização Midiática e Informacional (anteriormente conhecida como GAPMIL e, hoje, chamada Unesco MIL Alliance), como uma articulação aberta e multivariada de instituições e indivíduos espalhados pelos cinco continentes, estimulando o desenvolvimento de projetos, estudos e políticas públicas em AMI. A ABPEducom está entre as primeiras instituições que aderiram à aliança global da Unesco, tendo sido a 48ª associada entre mais de mil organizações.

Nessa linha, o jornalista recordou, igualmente, a relevância de iniciativas nascidas na sociedade civil, como o projeto Educamídia, criado no Brasil, sob a liderança do Instituto Palavra Aberta, criado por um grupo de corporações voltadas à prática profissional do jornalismo e das demais áreas da comunicação, apontando tal proposta como um significativo programa de formação de professores, capaz de garantir a presença da educação midiática e informacional junto a espaços abertos pela legislação educacional e pelas políticas públicas, no Brasil.

Educomunicação na ONU em 2010

O conceito da Educomunicação já havia sido adotado por um organismo da ONU denominado Aliança das Civilizações das Nações Unidas (Unaoc). O fato está documentado em debate do qual Jordi Torrent, coordenador do programa de Media Literacy dessa aliança, participou juntamente com Roberto Aparici, professor da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), de Madri (Espanha), em 2010, ocasião em que dissertaram sobre a natureza e a especificidade do conceito, como pode ser visto no texto “Educommunication: Citizen Participation and Creativity” (Educomunicação: Participação Cívica e Criatividade).

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