A ABPEducom lamenta a partida de Maria Aparecida Baccega, aos 76 anos, no dia 3 de janeiro de 2020. A professora foi um dos nomes de destaque da interface Comunicação-Educação.
Em nota publicada nas redes sociais, o Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) ressaltou a importância da docente para a área: “Todos no NCE lamentamos muito essa notícia e estamos certos da saudade que sentiremos, pois a professora Baccega, além de grande colaboradora, teve um papel muito importante nos estudos sobre a relação entre Comunicação e Educação, tendo criado uma revista para cobrir este âmbito [intitulada Comunicação & Educação], hoje reconhecida como um dos mais prestigiados periódicos da área da Comunicação no Brasil”.
Maria Aparecida Baccega nasceu em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, em 1943. Fez sua primeira graduação entre 1961 e 1965, cursando Ciências Jurídicas e Sociais, na Faculdade de Direito Laudo Camargo. Nesse período (entre outubro de 1963 a março de 1964), trabalhou com Paulo Freire em Brasília numa equipe que organizava subsídios para os “ciclos de cultura”. Entrou em Letras, na USP, pelo vestibular de 1968, mas foi obrigada a interromper a graduação por causa do AI-5, decretado pela ditadura militar, levando em conta sua condição de militante do Partido Comunista Brasileiro. Entre 1972 e 1975 conseguiu retornar à USP, graduando-se em Letras, e fez, na sequência, sua especialização, mestrado e doutorado.
Na livre-docência, optou pela Comunicação, fato que a levou à Escola de Comunicações e Artes (ECA). Lá, exerceu a chefia do Departamento de Comunicações e Artes (CCA), de 1992 a 1996, período em que a ECA passou por uma reforma curricular, eliminando o ciclo básico dos currículos de seus diferentes cursos, fato que acabou por retirar do CCA sua principal função na graduação da Escola.
Coube, então, à professora Baccega liderar o processo de reestruturação do papel de seu Departamento, ao articular seus professores em torno de projetos de grande significado, como a criação e consolidação de Núcleos de Pesquisa e de Extensão Cultural. Pessoalmente, integrou-se ao Centro de Estudos de Telenovela (CETVN) e ao Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), ambos da USP, assim como ao Núcleo de Pesquisa Comunicação e Práticas de Consumo, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), além do Observatório Iberoamericano de Ficção Televisiva (Obitel), que congrega países das Américas e da Europa.
Nessa linha de produtividade acadêmica, Baccega coordenou a formatação do Curso de Especialização em Gestão da Comunicação da USP, tendo sido sua coordenadora, além de docente e orientadora, de 1993 a 2003. Foi igualmente fundadora e editora da revista Comunicação & Educação, de 1994 a 2003, na qual permaneceu como Membro do Conselho Editorial e da Comissão de Publicação. Tais experiências acabaram por consolidar uma reflexão coletiva que levou o Departamento a oferecer à USP e à sociedade um novo curso de graduação, implantado em 2011, denominado Licenciatura em Educomunicação. Deixou a USP em 2003 para assumir a coordenação do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM.
Mais informações sobre a trajetória de Maria Aparecida Baccega estão disponíveis no site Nomes da Pesquisa em Comunicação.
Educomunicação ou Comunicação/Educação?
Baccega participou do projeto Educomunicação pelas Ondas do Rádio (Educom.rádio), experiência que a levou a todos os pontos cardeais da cidade de São Paulo, visitando os polos onde se implementava o programa do NCE/USP junto a 455 escolas do ensino fundamental da rede municipal paulistana. A docente coordenou um núcleo temático sobre as linguagens da comunicação, cuja missão era estar presente, a cada manhã de 12 sábados, em sete semestres subsequentes, de 2001 a 2004, num ponto diferente da cidade.
Apesar de uma profunda e produtiva convivência com um projeto identificado por seus organizadores e pela Prefeitura de São Paulo como “educomunicativo”, a professora, ao falar das relações entre o universo da educação e o mundo da comunicação, preferia simplesmente designá-las como pertencentes ao campo da “Comunicação/Educação”. Com esta opção, pretendia dar igual valor aos campos originários, dando precedência, contudo, à perspectiva da comunicação em seu olhar sobre a educação.
A diferença de perspectivas entre a professora e o NCE/USP não impediu que o Núcleo reconhecesse a originalidade de seu pensamento e a eficácia de sua ação, concedendo-lhe dois prêmios. A primeira outorga ocorreu em 2010, quando Baccega recebeu o Prêmio Mariazinha Fusari de Educomunicação — honraria nomeada em memória da carismática professora da Faculdade de Educação da USP e cofundadora do NCE. Já em 2018, o mesmo Núcleo outorgou outra comenda a Maria Aparecida Baccega, celebrando os 20 anos de contribuição da revista Comunicação & Educação ao campo da Educomunicação. O fato ocorreu numa das sessões do II Congresso Internacional de Comunicação e Educação, momento em que, de igual forma, o professor Ignacio Aguaded foi agraciado por sua iniciativa de haver criado a Revista Comunicar, em Huelva, na Espanha.
Assista também ao depoimento de Baccega ao jornalista Ricardo Alexino, da Rádio USP:
Imagem em destaque: Reprodução / CCA/ECA/USP
Muito bom perfil da profa. Maria Aparecida Baccega. Ela tem uma obra também muito relevante na área ee análise do discurso. Há dois livros fundamentais sobre o tema: Palavra e discurso.Historia e literatura; e outro Comunicação e Linguagem – Discursos e ciência.
Muito obrigada pela homenagem à nossa querida mestra.
Não a conhecia pessoalmente, mas sei que foi uma grande perda para a área de Comunicação e Educação. Lamento muitíssimo, vá em paz professora!