Um total de 1.400 “Coletivos Periféricos de Comunicação” de 19 países da América Latina adota procedimentos educomunicativos, quer em seus programas de ação quer em projetos voltados a formar novas lideranças para movimento. Esta foi uma das conclusões da tese que Juliana Salles de Souza, associada da ABPEducom, defendeu junto ao Programa de Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM-USP), no dia 30 de dezembro de 2024, num trabalho orientado pelo Prof. Dr. Dennis de Oliveira.

A pesquisa, aprovado com louvor, teve como título (Edu) comunicar na América Latina: distribuição, atuação e resistências de coletivos de comunicação. Em seu trabalho, a autora – apoiando-se em Milton Santos – garante que a perversidade que exclui as comunidades de periferias do convívio com a sociedade reconhecida, pela ideologia neoliberal, como produtiva não é irreversível, desde que – pela Educomunicação – seus integrantes alcancem “ressignificar as novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs), constituindo novas consciências, a partir da centralidade de suas próprias periferias”.

E o fato vem ocorrendo em todo o continente, tendo a Colômbia (com 580 coletivos) e o Brasil (com outros 449) na liderança da implementação da prática educomunicativa em nível periférico-comunitário.

Segundo a nova doutora, a sistematização dos dados que conseguiu reunir permitiu que concluísse que os coletivos de comunicação latino-americanos são uma expressão de arranjo organizacional presente no campo da comunicação popular, alternativa e comunitária, promovendo ações coletivas com tendência à horizontalidade e construídas com o intuito de incentivar a participação e a apropriação e vinculação de territórios e a criação de territorialidades. Os coletivos, em geral, organizam-se em redes on e offline, realizando articulações com atores sociais variados (escolas, universidades, movimentos sociais, partidos políticos e outros), visando promover diálogos com as peculiaridades dos territórios nos quais se desenvolvem. 

Em seu trabalho, Juliana informa que os Coletivos de Comunicação latino-americanos podem ser desenvolvidos tanto em regiões urbanizadas como em áreas mais rurais. Esclarece, na sequência, que o que os identifica é o fato de realizarem sua práxis comunicativa tendo como meta a construção cotidiana da decolonialidade do poder, do ser, do saber e de gênero, assim como o combate às opressões interseccionadas dos marcadores sociais de diferença. Desta forma, esclarece a autora: “Ao trazerem denúncias sobre as violações de direitos, ao mesmo tempo que anunciam as potencialidades de territórios periféricos, os coletivos se convertem em plataformas de lutas em busca da construção de outros mundos possíveis, na linha dos bem-viveres”.

Na opinião do Prof. Ismar Soares – presidente da ABPEducom e integrante da banca examinadora – a tese de Juliana enriquece a literatura sobre a epistemologia e a história da Educomunicação, na América Latina, por três razões: em primeiro lugar, por jogar luz sobre uma ação educomunicativa ainda pouco conhecida e que se vincula às raízes fundantes do novo campo: a busca pela autonomia comunicativa de segmentos populacionais marginalizados, a partir do lugar social dos próprios coletivos em estudo; em segundo lugar, por atualizar os referenciais teóricos do estudo da prática educomunicativa, numa aproximação coerente com a luta decolonial e a utopia do Bem Viver e, finalmente, por contribuir para a ampliação dos conhecimentos sobre a perspectiva latino-americana da prática educomunicativa.

A banca examinadora, presidida pelo orientador, contou com a participação dos docentes e pesquisadores Cristina Gobi, Claudia Nonato, Wagner Tadeu Iglesias e Ismar Soares

Os interessados em ter acesso ao texto definitivo da tese necessitam aguardar sua publicação pelo sistema USP de difusão científica, buscando pelo nome da autora ou pelo título da obra. O texto completo deverá estar liberado a partir de março de 2025.

 

Colaboração: Maria Rehder

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