A bióloga, professora da Universidade de Brasília (UnB) e associada da ABPEducom, Eloisa Lopes, compartilha o relato sobre como sua relação com a Educomunicação contribuiu para a elaboração da tese de doutorado intitulada “Interface educação-comunicação: possibilidades para o Ensino de Ciências”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências da UnB. O professor Claudemir Viana, secretário executivo da Associação, foi membro da banca examinadora do trabalho.

No texto, Lopes menciona o Curso de Formação em Educomunicação, ministrado pela ABPEducom em 2017 e 2018, com nova edição prevista para o ano que vem. “O competente e preparado corpo docente propiciou uma formação teórico-prática incrível, pois o tempo todo éramos desafiados a pensar em como o trabalho com projetos orientados pelos princípios da Educomunicação poderiam se desdobrar em ações concretas em nossas diferentes atuações profissionais”, conta a pesquisadora.

Leia o relato a seguir:

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Minha trajetória com a Educomunicação

Minha história com a Educomunicação iniciou-se em 2012 quando, por vias de um projeto baseado na pedagogia freireana e na educação científica crítica, realizei um interessante processo de empoderamento dos sujeitos do campo por meio da produção audiovisual [relatado em dissertação de mestrado defendida na UnB].

O projeto teve duração de dois anos e resultou em um processo de emancipação dos sujeitos por meio do protagonismo e da apropriação das práticas de produção audiovisual dentro dos contextos e possibilidades locais de cada um dos indivíduos e grupos divididos em diferentes regiões rurais do Centro-Oeste. Resultou, também, em 13 vídeos que foram produzidos democraticamente pelos próprios professores em formação, a partir da realidade em que estavam inseridos. Revelou, por meio de entrevistas realizadas três meses após a produção dos vídeos, percepções e compreensões dos protagonistas advindas de sua prática e reflexão, as quais não posso deixar de explicitar:

“[…] então a gente percebe que o vídeo é uma arma muito forte, assim dependendo da forma que a gente for usar ele… é um processo que dá pra você formar uma outra ideia a partir dessa que o pessoal usa que é pra manipular as pessoas […] eu acredito que o vídeo é fundamental nessa questão da potencialização das pessoas, no campo ou em qualquer outro espaço que ele esteja. É uma forma também da gente ir aprendendo a usar as tecnologias a nosso favor porque não dá pra nós só ficar olhando ela.” (José, 36 anos)

“[…] a gente viu o tanto que a gente cresceu, o tanto que a gente pode, eu mesma, eu não fazia ideia que eu teria a capacidade de fazer o que eu fiz, entendeu? Foi muita novidade e com o pouco tempo que a gente teve, a gente conseguiu enfrentar aquilo ali e quando você vê o resultado, nossa, é emocionante. Eu cheguei em casa, mostrei pro meu marido e ele falou: ‘Não, você não fez isso.’ Eu falei: ‘Fiz! Acredita que eu fiz!’” (Eli, 25 anos)

E não posso deixar de menciona-las porque as falas de José e Eli propiciaram o meu despertar para o entendimento do potencial da Educomunicação nos processos de ensino-aprendizagem. Até então eu conhecia muito pouco do referencial teórico-prático da Educomunicação, pois eu e meu orientador, professor Marcelo Bizerril, tínhamos a prática, sabíamos que ela tinha potencial, mas não conhecíamos muito sobre os seus desdobramentos teóricos, e eles estavam fazendo falta. Foi então que resolvi ir em busca de estudos e compreensões sobre o conceito.

Li textos do professor Ismar de Oliveira Soares, da Universidade de São Paulo (USP) [presidente da ABPEducom], e-books disponíveis online e conheci a Cristiane Parente, jornalista, educadora e comunicadora associada da ABPEducom, por meio do convite para integrar um grupo de discussão sobre Educomunicação em Brasília.

As leituras individuais e coletivas, bem como os espaços de diálogos no grupo, foram me fortalecendo, mas ainda não eram suficientes, pois havia decidido a continuar as minhas pesquisas na área da Educomunicação e pensar como ela poderia contribuir para o Ensino de Ciências crítico, emancipador e de empoderamento dos sujeitos.

Eloísa Lopes (ao centro) defendeu tese na UnB; secretário executivo da ABPEducom Claudemir Viana (1º da esq. para a dir.) foi examinador

Foi quando, em 2017, vi no Curso de Formação em Educomunicação, ministrado pela ABPEducom, com apoio do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE/USP) e da Faculdade Cásper Líbero, a oportunidade de aprofundar e me apropriar teoricamente do conceito e das discussões sobre a Educomunicação.

O curso foi imprescindível, proporcionou diálogos necessários e encontros fundamentais. O competente e preparado corpo docente propiciou uma formação teórico-prática incrível, pois o tempo todo éramos desafiados a pensar em como o trabalho com projetos orientados pelos princípios da Educomunicação poderiam se desdobrar em ações concretas em nossas diferentes atuações profissionais. Também foi incrível o convívio com colegas de diferentes áreas e lugares de atuação.

Terminei o curso inquieta, empolgada e com aporte teórico para defender meu projeto de qualificação de doutorado na UnB, no qual tive a honra de contar com a participação e contribuições do professor Claudemir Edson Viana, com quem tenho aprendido muito sobre Educomunicação nos últimos anos. Após a qualificação, prossegui com os estudos e pesquisa, defendendo no final de julho deste ano (2019) a tese intitulada “Interface educação-comunicação: possibilidades para o ensino de ciências”.

Neste trabalho, discuto as relações da comunicação com o Ensino de Ciências, respaldados por autores da interface educação-comunicação como Mário Kaplún e Paulo Freire, apontando possíveis caminhos para a integração entre as duas áreas à luz do referencial teórico-prático da Educomunicação, pois acredito que, com processos de ensino-aprendizagem que incentivem uma abordagem comunicativa não impositiva, dialógica, interativa e problematizadora, teremos condições de transformar nossas práticas educativas e proporcionar uma educação crítica e cidadã para nossos estudantes.

A comunicação é o eixo estruturante das nossas sociedades, está diretamente ligada à cultura, permeando os diferentes espaços e manifestações socioculturais. Pensar a comunicação, a maneira como ela acontece e como seus meios chegam aos espaços educativos é imperativo. A Educomunicação é um caminho! 

Eloisa Assunção de Melo Lopes, 25 de setembro de 2019.

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