Evento também contemplou programação cultural com apresentações musicais e divulgação da Licenciatura em Educomunicação
Por Antonia Alves
O compartilhamento de ideias, projetos e perspectivas ampliou as discussões do II Congresso Internacional de Comunicação e Educação por meio de 39 grupos temáticos (GTs) que receberam 186 apresentações vindas de universidades, escolas de educação básica e instituições do terceiro setor de todo o território nacional. Só no último dia, foram compartilhadas 50 experiências em 11 GTs sobre transformação social, protagonismo juvenil, formação e pesquisa.
Dois grupos temáticos discutiram a pesquisa sob o ponto de vista científico, da difusão do conhecimento e das mídias, diversidade, sustentabilidade e aprendizagem. O coordenador de um desses GTs, Alexandre Le Voci Sayad, surpreendeu-se com a qualidade dos trabalhos e entusiasmo dos participantes mesmo no último dia de evento. “O grau de criatividade das pesquisas e como elas estão se conectando demonstra avanço do campo da Educomunicação. Com a proposta de discussão logo após cada apresentação, houve grande envolvimento e aquecimento ao assunto que permitiram a realização das conexões dos pontos em comum”, comemora.
Três GTs discutiram a transformação social a partir da saúde, acessibilidade, bem-estar, diversidade e cuidado. Para a coordenadora do GT “Educom e transformação tecnológica e social: a diversidade das práticas” (foto em destaque), Christiane Pitanga (UFU), os trabalhos demonstraram que os pesquisadores estão atentos à sua realidade, com um olhar voltado para sua transformação: “Fica evidente que é preciso romper com um padrão educativo que exclui. Práticas educomunicativas são capazes de envolver as pessoas como protagonistas e como participantes ativos dos processos”.
A perspectiva da formação foi discutida em dois grupos voltados para educação midiática e audiovisual e para o processo formativo que está se dando nos cursos de bacharelado, licenciatura e na formação técnica. “Os temas estavam interligados, o que proporcionou uma costura entre eles para pensarmos a Educomunicação no cenário atual do Brasil”, relatou a coordenadora de um desses GTs, Cláudia Mogadouro (foto abaixo).
Quatro grupos temáticos discutiram o protagonismo juvenil a partir da expressão artística juvenil, da literatura, das tecnologias, das práticas diversificadas, das vozes coletivas, da geração digital e da educação midiática. Josete Maria Zimmer, professora da rede pública de São Paulo, e Juliana Cordeiro, da ONG Parafuso Comunicação, relatam as impressões que tiveram a respeito das discussões nos GTs que coordenaram.
As apresentações demonstraram que os adolescentes e jovens protagonistas tornam-se empoderados nas ações comunicativas criadas por eles. Para Zimmer, coordenadora do GT “Protagonismo dos jovens, na gestão das tecnologias e nas práticas de formação”, foi possível perceber isso no relato sobre um Comitê Gestor Discente de Tecnologia (Colégio Dante Alighieri), uma revista produzida com conteúdo autoral jovem (FATEC e CEET São Paulo) e na discussão sobre os riscos e sustentabilidade educacional no uso das TICs (Escola Estadual Fernando Nobre de São Paulo).
“Esses protagonistas são capazes de aprender por meio de ações educomunicativas e com sustentabilidade educacional, que foi o foco da discussão entre todos. Mesmo nas instituições privadas, a formação docente é importante e é urgente, assim como a existência de políticas públicas que incentivem o desenvolvimento de projetos para a sustentabilidade educacional,” registra Zimmer.
Os olhares dos jovens, crianças e adolescentes impactados pelos projetos de Educomunicação “me emocionaram por sentir que havia muita luta dos profissionais em garantir processos que debatam direitos humanos e criem novas narrativas sobre a identidade dos grupos envolvidos no processo,” diz Cordeiro, da Parafuso. De acordo com ela, que coordenou o GT “Vozes coletivas, compartilhadas e reconhecidas”, todos os projetos possuíam pontos em comum a respeito do que estão promovendo para a formação de direitos e do que dialogam sobre diversidade e pluralidade.
Segundo Cordeiro, para eventos futuros será necessário debater os processos de gestão dos projetos de Educomunicação, “pois a apresentação centrada nos resultados finais ou na criação de produtos exclui da pauta da conversa os desafios que são enfrentados em detrimento de visões políticas institucionais e individuais”. Ao falar sobre sua emoção, a educomunicadora diz que é pela partilha e pela autocrítica dos apresentadores. “Quando as lágrimas caíram dos meus olhos foi por ter sentido a trajetória de luta traçada individualmente e coletivamente por nós”. Em sua visão, a Educomunicação pode colaborar na emancipação dos jovens desde que demarque seu comprometimento político na defesa e promoção de direitos humanos.
Expressões comunicativas, artísticas e musicais
Com rica programação cultural, o II Congresso Internacional foi marcado pela presença de alunos do curso de Licenciatura em Educomunicação (Educom – ECA-USP) e também de jovens indígenas que estudam na rede pública municipal. Assim como nos outros dias do evento, o clima foi de muita interação.
Banda Educom – A banda composta por alunos do Educom (foto acima) apresentou um repertório musical com canções dos anos de 1970 e 1980 – Cordilheiras (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro); Balada do Louco (Os Mutantes); Jesus numa Moto (Sá, Rodrix e Guarabyra); O Sal da Terra (Beto Guedes); O Trem das 7 (Raul Seixas); Jardim das Acácias (Zé Ramalho); Cartomante (Ivan Lins); Jorge Maravilha (Julinho da Adelaide, heterônimo de Chico Buarque) e Admirável Gado Novo (Zé Ramalho).
“Não apenas as canções de resistência aqui apresentadas, mas a prática musical pode enriquecer as práticas educomunicativas,” destacou Marciel Consani, professor do curso, que também é músico e integrante do grupo. A banda é composta pelos alunos Vanessa Elias (voz e violão), João Bona (bateria e vocal de apoio) e Claudia “Caus” Rosa (baixo), além de Consani (violão, guitarra, baixo e vocal de apoio).
Rádio escolar indígena – Outro momento marcante foi a presença das crianças indígenas que compõem a Rádio Guarani no Centro Educacional de Cultura Indígena (vídeo abaixo). Essas crianças são as produtoras da Rádio Guarani Tekoa Pyau, uma rádio escolar. “Por meio de políticas públicas e da Educomunicação, a etnia tem preservado sua cultura e sua língua”, destaca a educomunicadora Carmen Gattás.
O que Educom faz? – O espaço foi utilizado pelos alunos do Educom para apresentar aos congressistas as atividades do curso. Segundo Gabriel Rosa da Cunha, trata-se do resultado da “Feira Educom” realizada para calouros e para a comunidade universitária no decorrer do ano com o intuito de apresentar as atividades do curso e o mercado de trabalho que pode acolher aos egressos.
“No nosso curso, as atividades de produção como revistas, documentários, dentre outros, são construídas colaborativamente pelos alunos. Com isso, queremos mostrar que o olhar do curso não é mercadológico, mas um olhar voltado para a educação e a sociedade,” argumenta o aluno do segundo ano.
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