Acaba de ser disponibilizada ao público a dissertação de mestrado Educomunicação socioambiental como política pública: a mobilização cidadã no ecossistema Babitonga, da pesquisadora Patrícia Zimmermann, que contou com a orientação de Ismar de Oliveira Soares, presidente da ABPEducom, e foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo (USP).

A investigação de Zimmermann está orientada para identificar em que medida o conceito de Educomunicação, incorporado ao Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) do Ministério do Meio Ambiente, permanece válido e efetivo para guiar a implantação de ações, projetos e programas no âmbito das políticas públicas ambientais. Além disso, a pesquisadora problematiza os referenciais educomunicativos a partir das apropriações feitas por agentes sociais que desenvolvem projetos de educação ambiental no Brasil. Dessa forma, a autora analisa o caso do conjunto de atividades de sensibilização e mobilização socioambiental e cultural promovidas pelo Projeto Babitonga Ativa, que envolve seis municípios de Santa Catarina.

Para o desenvolvimento do estudo, a pesquisadora optou pela metodologia de pesquisa qualitativa, utilizando a técnica de análise de conteúdo para conhecer, aprofundar e colocar em prática a interpretação dos dados da pesquisa. Como resultado, Zimmermann concluiu que o conceito de Educomunicação Socioambiental consolidou-se como referência na área da Educação Ambiental, reafirmando seus diferenciais, e, ao mesmo tempo, apontando suas convergências e intersecções com outras matrizes epistemológicas, como a comunicação e a educação comunitária e popular. 

A disponibilização da pesquisa chega no momento em que o tema da defesa ambiental torna-se assunto prioritário no Brasil, tendo em vista as divergências entre a ação governamental e as demandas da sociedade civil em prol do equilíbrio ecológico em regiões como a da Floresta Amazônica. Destacam-se neste contexto as mobilizações de muitos países sobre o assunto, objeto de debates na agenda pública internacional, incluindo eventos renomados, como o Fórum Econômico Mundial.

Segundo a pesquisadora, grande parte das discussões sobre o assunto é efeito de uma série de transformações nas relações de produção e consumo atuais, que geram impactos em muitos mercados e cadeias industriais. “É a eclosão de uma nova cultura, mais sustentável, que vem norteando os humores do mercado consumidor. Quem não se ajustar aos novos tempos, perde. Ou desaparece”, explica. 

Projeto Babitonga Ativa

O Projeto Babitonga Ativa (PBA) busca integrar a população, o poder público e a iniciativa privada para a defesa da saúde do ecossistema da Baía Babitonga, que atualmente abriga uma rica biodiversidade, inclusive de espécies animais ameaçadas de extinção, além de três importantes ecossistemas brasileiros da Mata Atlântica: a floresta ombrófila, a restinga e o manguezal. O projeto é realizado pela Universidade de Joinville (Univille), com recursos da Justiça Federal, oriundos de um Termo de Ajustamento de Conduta e de uma multa ambiental aplicada aos responsáveis por um grave acidente ambiental ocorrido em janeiro de 2008.

A equipe do PBA elaborou diagnósticos integrados sobre a saúde do ecossistema, dentre eles o diagnóstico fundiário, socioeconômico e ambiental, que reúne informações e estudos sobre a ocupação territorial, além da identificação dos desafios e oportunidades socioeconômicas e ambientais encontradas no litoral norte catarinense. 

No projeto de Santa Catarina, o modelo escolhido de atuação se apoia no estudo da distribuição dos organismos na Baía de Babitonga, buscando um processo de transformação efetivo e contínuo, que integra os atores conforme as demandas que se apresentam. Zimmermann utiliza no projeto um sistema de gestão participativo com base ecossistêmica, a partir de diagnósticos dos cenários encontrados. A mobilização social, construída a partir da metodologia educomunicativa, foi um pilar estruturador do projeto, que possui ações específicas para criação e manutenção do Grupo Pró-Babitonga, criado em 2017 para reunir entidades e representantes para a gestão participativa do ecossistema de Babitonga. 

O texto de Zimmermann oferece às instituições uma reflexão sobre uma questão sensível da sociedade contemporânea, além de apontar caminhos para o impasse ambiental: “A dissertação responde ao mercado com a sugestão de que se invista cada vez mais em uma cultura sustentável a partir da educação ambiental incentivada em ambientes tanto de educação formal quanto informal, nos projetos e programas desenvolvidos nas organizações públicas e privadas”, afirma a pesquisadora. 

Acesso 

A dissertação está disponível para download gratuito na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP. 

Foto: arquivo pessoal

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