- Quatro mesas relataram práticas e desafios comuns em projetos e políticas públicas das Américas, África e Europa
- 13 painéis sobre temas diversos abriram espaço para especialistas, bem como crianças e jovens protagonistas
- Workshops, oficinas, apresentações de cerca de 200 trabalhos e programação cultural atraíram mais de 700 participantes
Convergência de propósitos e robustez no resultado dos trabalhos articulados no Brasil e no mundo. Para quem atua com Educação Midiática, essas foram as principais constatações ao fim do II Congresso Internacional de Comunicação e Educação, que aconteceu entre os dias 12 e 14 de novembro de 2018, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).
Mais de 700 pessoas se reuniram para participar de mais de 70 atividades: quatro mesas-redondas, 13 painéis, 39 grupos temáticos (GTs), quatro workshops, dez oficinas e diversas apresentações culturais. O evento foi realizado pela Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom) e pelo Núcleo de Comunicação e Educação (NCE/USP).
Segundo Ismar Soares, professor sênior da USP e presidente da ABPEducom, o evento contou com a presença de representantes de 18 estados – além do Distrito Federal – de todas as regiões brasileiras e de outros 12 países das Américas, África e Europa: Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, Guiné-Bissau, Itália, México, Portugal e Venezuela.
“Entre os visitantes internacionais, figuras expressivas das políticas de educação midiática, como Carolyn Wilson, do Canadá, coordenadora pedagógica da área de alfabetização midiática e informacional da Unesco; Ignácio Aguaded, da Espanha, diretor da mais importante revista da área: a Comunicar, publicada pela Universidade de Huelva; e Guillermo Orozco, do México, professor da Universidade de Guadalajara e uma das principais autoridades no campo dos estudos de recepção midiática na América Latina; além do jovem Ro Gilberto Cá, da Guiné-Bissau, articulador de práticas educomunicativas junto a grupos de jovens”, diz Soares.
As mesas-redondas reuniram 18 especialistas que relataram as experiências acadêmicas e sociais dos seus países e apontaram pontos em comum, em especial a influência de Paulo Freire, devido à sua defesa da dialogicidade e da interação como fundamentais no processo educativo. Carolyn Wilson, da Unesco, falou sobre a obrigatoriedade da alfabetização midiática no currículo da educação básica no Canadá: “Os estudantes são capazes de contar sua própria história e oferecer suas opiniões; entrar no mundo digital do discurso para se expressar e recriar ou modificar algum aspecto de sua realidade”.
Por sua vez, Teresa Quiroz, da Universidade de Lima, no Peru, afirma que, apesar dos desafios, as políticas públicas locais têm avançado e “as crianças e adolescentes que estão chegando às escolas estão mais autônomos, participativos e interativos”. Os presentes também ouviram Alma Chavarriaga, do Grupo ComunicArte, na Colômbia, contar sobre o projeto que envolve rádios escolares e comunitárias em regiões que sofrem com a presença de guerrilheiros. “Temos que trabalhar com um objetivo primeiro: levantar, criar, despertar os sonhos destes jovens, dar outra possibilidade de vida diferente das armas”, diz Chavarriaga. Durante as mesas, também houve entrega de homenagens a personalidades que se destacaram na interface comunicação-educação nos últimos 20 anos e coleta de assinaturas para um manifesto em defesa de Paulo Freire.
Nos painéis, representantes de instituições educacionais e do terceiro setor, brasileiras e estrangeiras, apresentaram relatos práticos e debateram temáticas importantes para as áreas da Mídia-Educação e da Educomunicação: da liberdade de expressão às relações étnico-raciais, passando pelos direitos humanos e pelo desenvolvimento sustentável. Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, ressaltou a inclusão recente da Educação Midiática na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Fundamental. “Hoje na BNCC já temos o campo midiático e jornalístico. Nas competências já aparece exatamente aquilo de que a gente trata: desenvolver o senso crítico, análise do conteúdo, leitura crítica da informação, avaliação e produção de imagens e diversos outros temas”, aponta Blanco.
As crianças e jovens que participam de projetos educomunicativos tiveram ainda um painel exclusivo em que puderam exercer seu protagonismo e relatar as suas vivências. O momento contou até com a presença de alunos com idade de apenas quatro anos. Mas esta não foi a única oportunidade que os jovens tiveram de participar do evento: a cobertura educomunicativa foi realizada por um “pool” de escolas das redes municipal e estadual, um colégio particular e duas instituições sociais. Foram mais de 50 alunos envolvidos, com o apoio de mais de dez professores e instrutores, além do suporte de estagiários da Licenciatura em Educomunicação da USP.
Os GTs, por sua vez, propiciaram discussões entre pesquisadores de todo o país – e também do exterior – com base em quase 200 trabalhos apresentados, que foram articulados em grandes eixos: trajetória dos movimentos na interface comunicação-educação, transformação social, formação nos diversos espaços educativos, protagonismo juvenil, meio ambiente e pesquisa. “O grau de criatividade das pesquisas e como elas estão se conectando demonstra avanço do campo da Educomunicação”, comenta Alexandre Sayad, consultor em educação, cultura e mídia e coordenador de um dos grupos temáticos. Já a professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e também coordenadora de GT, Christiane Pitanga, chama a atenção para o olhar que o pesquisador da área deve cultivar: “Fica evidente que é preciso romper com um padrão educativo que exclui. Práticas educomunicativas são capazes de envolver as pessoas como protagonistas e como participantes ativos dos processos”.
Completando a programação científica, workshops e oficinas atenderam ao público interessado em relatos de experiência e aspectos mais práticos da Educação Midiática. Algumas das iniciativas apresentadas nos workshops foram o Serviço à Pastoral da Comunicação (SEPAC), o projeto Imprensa Jovem, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e a revista Comunicação & Educação, publicada pela ECA/USP. Já as oficinas abordaram como produzir e utilizar videoaulas, animações, histórias em quadrinhos, recursos educacionais abertos (REAs) e softwares como o Google Drive em projetos educomunicativos.
Ao longo do Congresso, aconteceram ainda a assembleia da ABPEducom e a reunião da Mobilização Latino-Americana pela Educomunicação, durante a qual foi apresentada a parceria entre ABPEducom, NCE/USP, Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) e Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Essa parceria permitirá ao movimento desfrutar de ferramentas digitais em rede para indexar produções, projetos, instituições e pessoas envolvidas com a Educomunicação na Ibero-América, fortalecendo assim o campo”, relata Claudemir Viana, professor da USP e coordenador do NCE.
O evento contou, por fim, com uma rica programação cultural, incluindo recital de piano, lançamento e feira de livros, espaço “O que Educom faz” – organizado pelos alunos uspianos do curso de Educomunicação –, apresentação dos estudantes da bateria da ECA, da Banda Educom e das crianças da Rádio Guarani Tekoa Pyau, do Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI) Jaraguá, na capital paulista.
O II Congresso Internacional de Comunicação e Educação foi realizado conjuntamente com o VIII Encontro Brasileiro de Educomunicação e teve o patrocínio das Pró-Reitorias de Cultura e Extensão Universitária, de Pesquisa e de Graduação da USP, Instituto Palavra Aberta, Instituto Unibanco, Colégio Dante Alighieri, Capes, Fapesp e Paulinas Editora. O evento foi apoiado pela Aliança Global para Parcerias em Alfabetização Midiática e Informacional (GAPMIL/Unesco), Viração Educomunicação, ECA/USP e curso de Licenciatura em Educomunicação da USP.