Santo Domingo, capital da República Dominicana, foi cenário do IV Congresso Internacional da Rede Interuniversitária Euro-americana de Investigação em Competências Midiáticas para a Cidadania (Alfamed), realizado na última semana do mês de maio de 2019. A entidade é presidida por Ignácio Aguaded, professor da Universidade de Huelva, Espanha, e diretor da Revista Comunicar.
O evento, ocorrido no Hotel Sheraton, nas proximidades no centro histórico da cidade, abordou o tema “Competência Digital: do acesso ao empoderamento”, com a participação de aproximadamente 200 inscritos, sendo 50 deles especialistas provenientes de países ibero-americanos e os demais, profissionais da educação filiados às redes públicas das diferentes regiões do país.
A ABPEducom foi representada por seu presidente, Ismar Soares, professor sênior da Universidade de São Paulo (USP), bem como pelo jornalista Alexandre Sayad, membro do conselho fiscal da entidade e representante executivo do GAPMIL (aliança da Unesco para Alfabetização Midiática e Informacional) na América Latina e Caribe, além da associada Maria José Brites, da Universidade Lusófona do Porto (Portugal). O congresso contou, ainda, com a participação da brasileira Gabriela Borges, da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), organizadora local do II Congresso Internacional da Alfamed, em 2017.
Consolidação da liderança da Alfamed
O êxito do evento foi confirmado pela opinião positiva manifestada por todos os segmentos que se envolveram na iniciativa. Para Soares, ficou evidenciada a liderança da entidade promotora — a Alfamed — que, em seu quarto congresso, conseguiu reunir pesquisadores e promotores da educação midiática da Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Espanha, Itália, México, Peru, Portugal, República Dominicana e Venezuela.
Ainda segundo o professor, ficou igualmente reconhecido o empenho dos Ministérios da Presidência e da Educação da República Dominicana em fortalecer a educação midiática no país, através do Instituto Dominicano de Avaliação e Pesquisa da Qualidade Educativa (Ideice). Coube a este organismo copromover a iniciativa, oferecendo suporte logístico e estrutural, responsabilizando-se também por levar à capital cerca de 150 docentes do ensino básico de todo o território nacional.
Declaração de Santo Domingo
Ao final de três intensos dias de trabalho acadêmico, a Rede Alfamed e o Ideice apresentaram aos participantes, na manhã do dia 31 de maio, a “Declaração de Santo Domingo: As tecnologias para uma nova escola, uma nova sociedade”. A íntegra do documento está disponível em espanhol.
O quinto tópico da declaração aborda a competência digital e a importância das metodologias ativas em sala de aula: “Defendemos que, no âmbito educativo, a competência digital implica participação e trabalho colaborativo, fomento da criatividade e do espírito crítico, assim como motivação e curiosidade para a aprendizagem. Portanto, vai além do uso instrumental da tecnologia para potencializar a dimensão humana, relacional, crítica e sustentável da cidadania.”
Já o sexto tópico defende uma aproximação estratégica entre os profissionais da comunicação e da educação, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2030, de iniciativa da ONU: “Uma informação livre, verdadeira, responsável, sustentável e comprometida com o desenvolvimento socioeconômico é garantia de uma cidadania mais crítica e justa. Defendemos, portanto, uma aliança estratégica entre profissionais da mídia e profissionais da educação em defesa do inabalável trabalho do serviço público.”
Por fim, o oitavo tópico do documento refere-se expressamente à prática educomunicativa: “Os usos das tecnologias não são neutros e seu impacto na inovação e nas transformações sociais deve ser gerenciado para proporcionar as oportunidades necessárias que evitem desigualdades entre pessoas e territórios. Portanto, um uso competente beneficiará a integração regional, a equidade, uma melhor qualidade de vida, uma sociedade inclusiva e um maior progresso econômico, social e sustentável. A Educomunicação deve servir como aliada da democracia a partir de uma tríplice perspectiva: ética, estética e política, concebida como instrumento essencial para o bem comum”.
Associados da ABPEducom falam sobre Educomunicação
Brites participou da sessão plenária sobre o Digital Education Action Plan, proposta da União Europeia para o desenvolvimento de competências digitais na educação. A investigadora sugeriu, em especial, a necessidade de práticas educomunicativas em contexto específico e em articulação com a vida cotidiana. A associada falou de sua experiência nos projetos RadioActive Europe (2013-14) e Media In Action (2018), ambos com financiamento da Comissão Europeia, e no DiCi-Educa (2019-20), este último cofinanciado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Sayad fez parte da mesa redonda que discutiu a cooperação latino-americana para formação de professores em competências midiáticas e digitais, apresentando a educação midiática como um ponto crucial para “atualizar” a escola perante nosso tempo. Nesse sentido, apresentou, em primeira mão, a iniciativa de formação Educamídia, realizada no Brasil pelo Instituto Palavra Aberta, com apoio do Google. Traçou, igualmente, um panorama histórico e atual do papel da aliança GAPMIL, convidando a todos os presentes para fazerem parte da iniciativa.
Ao introduzir a palestra proferida pelo presidente da ABPEducom, na manhã do último dia do evento, Sayad sublinhou o sentido de “ZeitGeist”, termo cunhado pelo filósofo alemão Johann Herder que designa “o espírito do tempo”, definindo a Educomunicação como um campo conceitual importante para que a escola respire o espírito de seu tempo, de forma mais democrática, abrindo canais de comunicação para todos os atores de seu ecossistema. “Como Janus Korjak e Celestin Freinet, Ismar Soares sempre acredita que um novo mundo é possível graças à expressão das crianças e jovens”, finalizou.
Finalmente, na palestra de encerramento, Soares discorreu sobre o tópico a ele proposto pelos organizadores do evento: “Educomunicação universal: direitos e deveres diante das telas”. Em sua exposição, o professor analisou a recente produção de especialistas latino-americanos e europeus que, ao tratar do tema da Educomunicação a partir de narrativas relacionadas a seus respectivos contextos, acabaram por chegar, na atualidade, a concepções e descrições que coincidem com a sistematização proposta, em 1999, pelo NCE/USP, demonstrando que tal aproximação teórico-metodológica facilitará a implementação de projetos e futuras pesquisas sobre o novo campo nos diferentes continentes.
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