As ações realizadas no âmbito da saúde pública têm maior potencial quando os profissionais da área refletem sobre a maneira de se comunicar com a população, trocando a função de transmitir conteúdos unidirecionalmente pela de construir conhecimentos por meio do diálogo e da participação social. Para mostrar como essa mudança pode ser posta em prática, a live sobre Educomunicação e saúde, realizada pela ABPEducom em 1º de dezembro, trouxe participantes do projeto Educom.Saúde-SP, que levou formação educomunicativa a centenas de profissionais de saúde do estado em 2019 e 2020. Assista à gravação completa no vídeo abaixo.
Os mediadores Paola Prandini (diretora cultural da ABPEducom) e Maurício Virgulino (associado) receberam para o bate-papo Irma Neves Ferreira, coordenadora pedagógica do Educom.Saúde-SP, Joelita Palmeira Rocha, coordenadora do Núcleo Regional de Lins (SP) da ABPEducom, e Cristiane Oliveira Andrade, funcionária do Setor de Controle de Vetores do município de Teodoro Sampaio (SP).
Irma Neves, que participou da formulação do Educom.Saúde-SP, conta que o projeto surgiu dos anseios dos profissionais de saúde pública, que enfrentam dificuldades de engajar a população no combate à propagação do mosquito do Aedes aegypti. Segundo a especialista, a complexidade das doenças transmitidas por vetores exige que as ações contemplem diferentes eixos, como o “controle vetorial, a vigilância epidemiológica, o laboratório, a assistência ao paciente, a mobilização social, a comunicação e a educação”.
Lembrando que o uso de ferramentas de comunicação com a intenção de educar não é uma prática comum no campo da saúde, Neves comemora o potencial do Educom.Saúde-SP. “O projeto carrega em si ideias inovadoras e muitas possibilidades de ação. O curso permitiu uma reflexão crítica a respeito da prática de saúde. Conforme os agentes iam entrando em contato com as ferramentas de Educomunicação, ia se abrindo um leque de ações que poderiam ser implementadas em cada território”, explica ela.
Educomunicação e saúde na prática
Definindo o contato com a Educomunicação como um “divisor de águas” em sua atuação profissional, Cristiane Oliveira mostrou exemplos do impacto do Educom.Saúde-SP. Aluna do projeto em 2019, ela conta que sempre se preocupou em se comunicar adequadamente com diferentes públicos, e que a formação deu a ela a coragem e a capacitação necessárias para explorar novas linguagens e consolidar o trabalho dos agentes de saúde em Teodoro Sampaio, município de 23 mil habitantes que é muito afetado pela dengue.
Além de mobilizações virtuais, que envolveram convidar os cidadãos a enviar vídeos limpando o quintal, e o projeto Geografia da Saúde, que mapeia casos de dengue, Oliveira destacou a participação da Jennifer, uma criança surda que gravou vídeos para a campanha #cadaumnoseuquadrado, do Dia Mundial da Limpeza, em setembro, motivando a população da cidade a enviar mais de 150 imagens de quintais livres de viveiros do mosquito. Oliveira reflete que a ação foi inovadora por transcender os limites do objetivo inicial e trabalhar outros aspectos sociais, como a inclusão de pessoas com deficiência nos processos comunicativos, além da educação socioambiental.
Os frutos do Educom.Saúde-SP também estão sendo colhidos em Lins, onde Joelita Rocha, aluna do projeto em 2019, coloca em prática ações com colaboração da comunidade. A especialista conta que a cidade recebeu quatro formações ao longo deste ano, trazendo ferramentas para mobilizar os jovens, o que resultou na criação da Agência Jovem de Notícias Lins. Rocha também compartilhou a experiência do Jornal dos Coletores de Reciclagem do Bairro Bom Viver, produzido pelos profissionais de coleta de resíduos com o objetivo de conscientizar a população.
“O Educom.Saúde-SP veio para valorizar a ação do sujeito social ativo, participativo e colaborativo, que tem a intenção de somar”, destaca a especialista, afirmando que os planos são transformar as vivências do projeto em política pública municipal em 2021.
Educom.Saúde-SP
Realizado desde 2019 pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES/SP), o Educom.Saúde-SP tem o apoio da ABPEducom e do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP). Em sua primeira edição, o projeto preparou 200 agentes de saúde, atuantes em municípios paulistas com mais de 100 mil habitantes, com o objetivo de fortalecer as ações de controle de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
Pioneiro ao integrar o campo da saúde pública às práticas educomunicativas, o projeto recebeu avaliações tão positivas que foi ampliado em 2020. A segunda edição ocorreu entre agosto e novembro deste ano, alcançando 102 municípios de 25 mil a 100 mil habitantes, com mais de 300 profissionais de saúde inscritos. Além da capacitação oferecida aos novos participantes, o Educom.Saúde-SP 2020 também ofereceu assessoria aos veteranos do ano passado, com acompanhamento dos projetos elaborados na primeira edição.