Legenda da foto: Banca examinadora,na UFMT (Campus de Rondonópolis)
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No dia 5 de abril de 2018, o tema da Educomunicação esteve em debate, pela segunda vez, no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Mato Grosso, agora no campus de Rondonópolis. A pesquisa defendida por Elisângela Lopes de Lima Carvalho teve como título: “Projeto Educomunicação: Formação Cidadã na Escola de Ensino Médio Antônio Ferreira Sobrinho, em Jaciara, MT”.
A primeira pesquisa sobre a Educomunicação no Mato Grosso foi defendida em 2007, no campus central da UFMT, em Cuiabá, por Claudia Moreira, sob o título: “Educom.rádio: indícios e sinais”, acessível em < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=94712 >.
A defesa: Conquistas e perspectivas
A sessão de defesa contou com uma banca formada pelo orientador. Prof. Dr. Ademar de Lima Carvalho e pelos professores doutores Érika Virgílio (UFMT) e Ismar de Oliveira Soares (ECA/USP).
A partir de referenciais teóricos sustentados especialmente em Celestín Freinet, Paulo Freire e Ismar de Oliveira Soares, o trabalho tomou como objeto de análise o caso de uma escola do Município de Jaciara, situada a 70 Km de Rondonópolis, e que desde 2012 vinha implementando uma experiência diferenciada de ação educomunicativa.
O trabalho revela dados da Secretaria de Educação segundo os quais o estado conta, atualmente, com projetos de educomunicação em 132 escolas de ensino médio vinculadas a 53 municípios. A autora aponta, contudo, para alguns pontos de estrangulamento do processo, entre os quais a inexistência de um programa regular de formação dos professores que se habilitam a implantar projetos educomunicativos em suas unidades escolares.
Ao concluir sua pesquisa, Elisângela garante que – a partir dos dados coletados não só nas entrevistas, mas principalmente nos registros das mídias trabalhadas pelo projeto – existe uma considerável contribuição da Educomunicação para a formação cidadã dos alunos. E esclarece: “Quando digo considerável, me refiro ao número de entrevistados que demonstrou ter conscientização de seus direitos e de seu papel enquanto cidadãos”, acrescentando: “… Vários alunos que não estão inscritos como colaboradores do projeto, fazem uso dos espaços comunicativos para expor suas opiniões e dons, como nos casos das apresentações musicais e entrevistas realizadas fora do ambiente escolar”.
A autora vê, contudo, problemas a serem sanados: “Fica claro nos dois grupos de entrevistados (o grupo dos professores e o dos alunos) que a integração entre as disciplinas e o projeto ainda é pouca, fato que se justifica na falta de conhecimento por parte dos professores acerca das áreas de intervenções da educomunicação e de sua importância na efetivação da comunicação no ambiente escolar”. A autora aponta para outro desafio: trazer a educomunicação para o PPP- Plano Político Pedagógico da escola e garantir uma formação contínua sobre a relação mídias comunicativas e ambiente escolar. Apela também a favor de uma maior atenção da Secretaria de Educação em relação aos professores-educomunicadores, para que voltem a dispor de 30 horas de dedicação ao invés das atuais 10 horas semanais, uma vez que o protagonismo promovido pelo projeto teve um grande prejuízo a partir da redução do tempo.
De acordo com a manifestação da banca examinadora, a pesquisa de Elisângela Carvalho, ao visitar a prática educomunicativa de uma das escolas do estado do Mato Grosso, uma década depois de concluída a formação oferecida pelo NCE/USP (2005-2007), cria uma clima favorável para se estimular o debate sobre as contribuições que a educomunicação possa vir a dar a uma revisão curricular que leve em consideração a formação cidadã das novas gerações, no estado,
Revisitanto o Educom.Centro-Oeste
A pesquisa de Elisângela Carvalho retoma a oferta, pelo MEC, de uma capacitação em educomunicação, destinada a 2.500 pessoas vinculadas a 80 unidades escolares dos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Revela que além de haver atendido escolas urbanas o projeto beneficiou comunidades quilombolas, aldeias indígenas e assentamentos rurais, através de um trabalho articulado pelo NCE-USP, com o uso de uma plataforma virtual e a implementação de atividades presenciais, incluindo duas oficinas de produção radiofônicas, em cada escola, ministradas por radialistas locais.
Um evento que exemplificou o resultado desta formação foi a “cobertura educomunicativa” da reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de 2007, ocorrida em Cuiabá, MT, momento em que estudantes de ensino médio de Mato Grosso entrevistaram cientistas e estudiosos presentes, divulgando o evento via web-rádio, deixando a impressão de uma cobertura midiática de grande qualidade.
Segundo a autora, a intervenção foi tão positiva que, semelhantemente ao que ocorrera no município de São Paulo, em 2004, o poder público de Mato Grosso decidiu garantir igualmente às escolas do ensino médio do estado o acesso ao conceito da Educomunicação. De acordo com a Instrução Normativa Nº 008/2007/GS/Seduc/MT/, as escolas passaram a ter o direito a um professor-educomunicador, a ser escolhido entre os docentes efetivos da área de linguagem, que tivesse preferencialmente participado da formação continuada realizada pelo Educom.Centro-Oeste. Para tanto, o candidato deveria elaborar um projeto específico a ser examinado pela Secretaria de Educação, contando, para sua implementação com parte de sua carga horária como professor da rede.
Estudantes de Jaciara encontram-se com o Prof. Ismar
Reconhecida como uma das principais lideranças da prática educomunicativa nas escolas públicas do Estado do Mato Grosso, a Profa. Elisângela Carvalho fez a defesa de sua dissertação ser antecedida, no dia 4 de abril, por um encontro que reuniu, na Escola Estadual “Prefeito Artur Ramos”. , um grupo de estudantes da rede pública de ensino de Jaciara com o Prof. Ismar Soares.
O encontro ocorreu de uma forma descontraída, tendo sido marcado por um diálogo franco, através do qual os estudantes puderam relatar como implementavam seus projetos de produção midiática, e externar seus pontos de vista sobre a prática educomunicativa, apresentando ao Presidente da ABPEducom suas dúvidas. O Prof. Ismar desafiou-os a liderarem o movimento educomunicativo em Mato Grosso, quer apoiando seus principais aliados – os professor-educomunicadores – quer articulando-se em rede com estudantes de outras escolas que tivessem envolvidos em atividades na área.
Além da liderança estudantil da escola Artur Ramos, o encontro em Jaciara contou com a presença de professores-educomunicadores, diretores e coordenadores pedagógicos, entre os quais a Assessora pedagógica Mariley de Oliveira Freitas, o professor Milton Bihain, educomunicador do CEJA Marechal Rondon, Patrícia Arruda, diretora da Escola Estadual Prefeito Artur Ramos, Arailda, coordenadora da Escola Plena Antonio Ferreira Sobrinho, além dos alunos do 7º ano da Escola Municipal Magda Ivana, bem como da coordenadora Nadir de Assis e Sandra Santos, sendo essa escola a primeira unidade municipal de Jaciara a inserir o Projeto Educomunicação, a partir de 2018.