Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, alunos e professores do Programa Imprensa Jovem, criado e mantido pelo Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP), têm se mobilizado para o enfrentamento das questões ligadas à doença. Além de produzir conteúdos sobre o isolamento social e cuidados com a saúde, as propostas discutem, de maneira crítica, os desdobramentos provocados pelo covid-19 nas mídias digitais, como a desinformação e os desafios de ampliar o ensino à distância.
Por meio da produção de material multimídia em agências de notícias organizadas por crianças e adolescentes sob o acompanhamento e mediação dos educadores, a iniciativa desempenha papel fundamental para o combate à doença e outros problemas ligados aos usos das mídias.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Henrique Souza Filho (Henfil) é uma das envolvidas em projetos educomunicativos voltados ao tema do coronavírus. Por meio do Projeto Henfilmes – “Oficina de cinema e produção de vídeos na escola”, ligado ao Imprensa Jovem e conduzido pelo professor Bruno de Souza Rodrigues Ferreira, os estudantes desenvolveram uma edição especial do telejornal escolar com informações sobre o vírus, formas de prevenção e dicas sobre como evitar cair nas fake news.
Como aponta Ferreira, o interesse pelos jovens no projeto tem a ver com uma vontade de se tornarem sujeitos ativos nas ações e responder criticamente aos problemas da sociedade: “Percebo nos jovens que participam desse processo uma postura crítica frente aos desafios do mundo. Eles querem ter voz, querem ser ouvidos e querem colocar em prática as suas ideias com uma responsabilidade social que muitas vezes me impressiona”, afirma.
O protagonismo dos jovens em todo o processo de criação é uma das chaves para a consolidação de um aprendizado multidisciplinar e autônomo, guiado pelo desenvolvimento de novas habilidades e técnicas que também servem para melhorar competências em outras áreas e disciplinas. “São muitas competências e habilidades que são mobilizadas nos estudantes que participam do projeto. Com certeza esse conhecimento favorece o desempenho do aluno em outras áreas do conhecimento ou nas matérias da grade curricular”, complementa o professor.
Segundo Júlia Fernandes, aluna envolvida no projeto, um dos objetivos é utilizar os vínculos e fatores de influência entre os alunos para ajudar colegas no combate à desinformação. “Nossa função, além de tentar tranquilizar quem nos assiste com base em informações consistentes, é pesquisar a fundo todo esse assunto em fontes confiáveis e desmentir qualquer boato que possa agravar ainda mais a situação”, destaca ela.
Além do telejornal, os alunos do Projeto Henfilmes também desenvolveram o vídeo #anticoronachallenge, que demonstra de forma descontraída os principais cuidados na prevenção ao coronavírus.
Vínculos e redes de afetos
Para a professora e formadora do Núcleo de Educomunicação da SME-SP e diretora de Assuntos Profissionais e Formação Continuada da ABPEducom, Michele Marques Pereira, os projetos do Imprensa Jovem destacam-se pela formação completa dos alunos no plano das expressões comunicativas e potencialidades de divulgação.
A partir das atividades fundamentadas em um percurso prático que se inicia com a elaboração de pautas e percorre vários processos, como a participação em campo para coleta de dados, reuniões para debates de ideias, confrontamento de opiniões e perspectivas e, ao final, a edição das matérias para veiculação, crianças e adolescentes são levados a fazer uma leitura crítica da mídia.
Os educandos encontram também possibilidades de sensibilizar as pessoas ao seu redor com as questões e causas apontadas nas produções, justamente pela identificação afetiva. “Quando [familiares e amigos] recebem essa informação, têm o potencial de se afetar e mobilizar muito mais do que com uma informação que chega da mídia convencional, porque quando você conhece a pessoa que produziu e fez a matéria isso te mobiliza a ler e ouvir, a parar e te escutar”, afirma Pereira.
Neste sentido, a interação entre os estudantes para a produção de materiais sobre a pandemia e outros assuntos é relevante para o envolvimento de toda a comunidade escolar, especialmente pais, mães e responsáveis.
Formação de professores
Além dos projetos conduzidos por alunos, o Núcleo de Educomunicação da SME também organiza ações para a formação de professores da rede municipal durante o período de quarentena, como o curso online sobre fake news oferecido em formato de webinares pela plataforma “Vaza, Falsiane!”. A formação é composta por quatro encontros semanais com especialistas e professores ligados ao assunto. Os vídeos podem ser assistidos na playlist dedicada ao curso.
Além de capacitar professores para o desenvolvimento de novas ações e discussões em sala de aula, o Núcleo tem como objetivo oferecer apoio aos educadores em atividades a serem ministradas durante a quarentena. Dentre algumas das propostas, está a organização de oficinas para criação de videoaulas, blogs e propostas para a leitura crítica da mídia, que constitui uma das áreas de intervenção da Educomunicação.
Para Carlos Lima, coordenador do Núcleo, o atual momento leva a refletir sobre a relevância do campo da Educomunicação para a ampliação das vozes de estudantes na comunidade escolar. “Este momento ímpar na história do mundo está mostrando que a Educomunicação tem o seu papel na mediação social, como uma ferramenta de Educação. Podemos destacar a importância dos estudantes, que apesar de não estarem em suas escolas estão apoiando as iniciativas de formação da sua comunidade escolar. São jovens que atuam como mediadores educomunicadores”, explica.
Imagem: Projeto Henfilmes / Divulgação