O Instituto Palavra Aberta, com o apoio do Google.org, lançou na manhã de hoje (12/06) o Programa EducaMídia – “Cidadania para o mundo conectado”, com o intuito de capacitar e engajar a sociedade no processo de Educação Midiática dos jovens. O evento foi marcado por uma mesa-redonda com especialistas sobre as mudanças provocadas pelas tecnologias digitais na educação e na sociedade como um todo. Entre os membros do conselho consultivo do programa, está Ismar Soares, professor sênior da Universidade de São Paulo e presidente da ABPEducom, parceira do EducaMídia. (Veja, ao fim do texto, o vídeo de apresentação do projeto.)

Para Patrícia Blanco, presidente do instituto, a iniciativa vai ao encontro da missão do Palavra Aberta de promover e defender a liberdade de expressão, demonstrando que “proibir não resolve, o que resolve é educar”. Blanco relata que o programa está baseado em três pilares — ler, escrever e participar — e constitui-se por uma plataforma de engajamento e de conteúdo, visando contribuir para unificar e difundir o conceito de Educação Midiática, considerada um processo contínuo que precisa lidar a cada dia com o surgimento de novas tecnologias e, consequentemente, de novos desafios.

O programa é coordenado por Mariana Ochs e Daniela Machado. Durante o evento, Ochs apontou que existem princípios compartilhados entre a educação, o jornalismo e o design, especialmente no tocante às aprendizagens ativas. Ela aponta o espaço aberto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê uma competência geral voltada para a cultura digital e aborda temas ligados à Educação Midiática em várias disciplinas, principalmente a de Língua Portuguesa.

Já Machado observou que a Educação Midiática, entendida pelo Palavra Aberta como um conjunto de habilidades de acesso, análise, criação e participação — visão baseada no conceito de Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) definido pela Unesco –, propõe-se a realizar uma leitura crítica do mundo e, portanto, independe das tecnologias disponíveis, podendo atingir potencialmente qualquer escola.

Mesa-redonda

Participaram da mesa-redonda (na foto acima, da esquerda para a direita) Vera Iaconelli, psicanalista e colunista da Folha de S.Paulo, Alexandre Sayad, representante do GAPMIL (aliança internacional da Unesco para AMI) na América Latina e no Caribe e conselheiro fiscal da ABPEducom, e João Alegria, gerente-geral do Canal Futura, com mediação de Marco Túlio Pires, coordenador do Google News Lab no Brasil.

Pires citou o recém-divulgado relatório do Reuters Institute que confirma o declínio da credibilidade na mídia, ao mesmo tempo em que as habilidades necessárias para viver em um mundo digital estão se tornando mais complexas. Iaconelli, por sua vez, questiona as famílias que ficam inibidas de assumir uma função educadora para regular o uso dos aparelhos digitais pelos seus filhos, por se sentirem intimidadas pelas tecnologias em que os jovens têm mais domínio.

Sayad aponta que o EducaMídia aproveita um caminho pavimentado pela BNCC, mas aberto desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Ele destaca também a importância da Educação Midiática para a promoção do pensamento crítico, da democracia e até mesmo da equidade social, algo que vem sendo comprovado pela experiência de alguns países europeus.

A fala de Alegria ressaltou a importância da escola, que, em sua avaliação, possui uma função social de peso — oferecer benefícios básicos, como roupas, alimentação e acolhimento, que faltam a muitos jovens brasileiros –, mas tem falhado na função do conhecimento, por ainda estar muito atrelada a um modelo de transmissão de informações que não faz mais sentido hoje.

No fim do evento, Caetano Siqueira, coordenador de Gestão da Educação Básica na Secretaria da Educação do estado de São Paulo, apresentou algumas iniciativas da rede estadual que buscam introduzir a Educação Midiática no currículo, como as disciplinas de projeto de vida, eletivas e de tecnologia.