Na foto acima: Érica Costa (7ª à direita, de pé) com o professor Ismar Soares e os adolescentes do Projeto Carrapicho Virtual
A dissertação intitulada “Carrapicho: Experiências de Educomunicação com Adolescentes e Jovens do Vale do Salitre” passará a ser, provavelmente, a pesquisa de número 323, assim que catalogada no Banco de Teses da Capes, a partir da busca por “Educomunicação”. O trabalho foi defendido por Érica Daiane da Costa, sob orientação do professor João José de Santana Borges, no dia 7 de março, no Programa de Pós-Graduação stricto sensu — Mestrado Multidisciplinar em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos (PPGESA) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus de Juazeiro (BA).
O número da pesquisa foi estimado por um dos membros da banca examinadora, o presidente da ABPEducom e professor sênior da Universidade de São Paulo (USP), Ismar Soares, para quem o trabalho representa um marco na história da pesquisa sobre a relação Comunicação/Educação, levando em conta tanto a abordagem da pesquisa quanto a metodologia utilizada.
A avaliação foi referendada pela examinadora interna, a professora Gislene Moreira Gomes, que destacou o empenho da pesquisadora Costa em partir do “lugar de fala” dos sujeitos da pesquisa: adolescentes e jovens do semiárido que construíram um projeto de intervenção para garantir voz aos habitantes do território, através do uso da linguagem digital.
Educação contextualizada
Afirma a autora, numa das páginas de seu texto:
A partir de vivências acadêmicas e nos movimentos sociais, passei a acreditar na educomunicação como estratégia de formação de sujeitos, o que me levou a provocar a criação do Carrapicho Virtual, uma experiência com adolescentes e jovens no Vale do Salitre, interior de Juazeiro (BA). A partir da pesquisa-ação e da pesquisa participante, me embasando também em conceitos como a etnografia e etnopesquisa formação, me lancei ao desafio de investigar como a educomunicação pode promover a formação crítica-ativa da juventude no ambiente formal e não formal. Para isso, além de pesquisar a própria experiência, realizei uma intervenção na Escola Municipal Manoel Nunes Amorim, ao tempo em que defendi a indissociabilidade entre a educação contextualizada e a educomunicação. Todo o percurso permitiu reafirmar a educomunicação como caminho estratégico na formação de sujeitos protagonistas de uma cidadania ativa, bem como apresentar contribuições que possam embasar a construção de possíveis ações voltadas para esse campo-prático teórico no âmbito do poder público municipal.
Pesquisa de raiz
De acordo com Soares, trata-se de uma “pesquisa de raiz”, realizada junto ao segmento social de onde emergiu historicamente a prática educomunicativa: o movimento popular latino-americano em sua relação com as práticas sociais emancipadoras, aqui representada pela luta pelo resgate da memória sobre o que representaram os embates entre os colonizadores e os habitantes do território, especialmente os indígenas e os negros escravizados.
Causou impressão positiva à banca examinadora a presença, na plateia, de aproximadamente 30 jovens do Vale do Salitre, além de professores e estudantes do programa, acompanhando a apresentação e arguição da pesquisa.
A Educomunicação na Bahia
No início de sua fala, Ismar Soares lembrou a importância da Bahia para a sistematização e a difusão da prática educomunitiva. Deu destaque à contribuição inicial da professora Ângela Schaun, que usou, em sua tese doutoral, defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a mesma metodologia empregada pelo Núcleo de Comunicação e Educação (NCE/USP) em seu estudo histórico sobre a relação entre as duas áreas (realizado entre 1997 e 1999), contribuindo — a partir da experiência baiana — para a definição de uma das áreas de intervenção do novo campo, denominada “Expressão comunicativa por meio da Arte”.
Lembrou, na sequência, projetos em desenvolvimento no estado, tais como: a inclusão da educomunicação na Política Estadual de Educação Ambiental; o Projeto Cinemação, da Secretaria de Educação; a constituição do Núcleo de Educomunicação, a serviço dos cursos de Pedagogia e de Comunicação da UNEB Juazeiro; a criação, pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, da Rede Educom em 27 territórios de identidade da Bahia; a prática educomunicativa emergindo em municípios como Valente e Lauro de Freitas, bem como se consolidando em escolas privadas como o Colégio Salesiano de Salvador; e, finalmente, projetos decorrentes dos trabalhos de intervenção ou de pesquisas dos estudantes da UNEB, como atesta o “Carrapicho Virtual”, objeto da dissertação de Erica Daiane da Costa Silva.
Acervo Dom José Rodrigues
Durante sua estadia em Juazeiro, Soares concedeu entrevistas aos canais universitários de TV da própria UNEB e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Outro momento que mereceu destaque foi sua visita ao Acervo Dom José Rodrigues, hoje sob a guarda da UNEB.
O antigo bispo de Juazeiro é considerado um precursor da prática educomunicativa no semiárido brasileiro. Foi responsável pela formação de uma biblioteca de mais de 30 mil volumes sobre temas de sociologia e teologia, contemplando especialmente a Teologia da Libertação, além de livros e documentos sobre educação e comunicação populares.
Trata-se de um rico material colocado a serviço da formação de seus colaboradores. Sua obra e o acervo que deixou estão sendo objeto de pesquisa em nível de doutorado por parte de Francisco Assis, professor da UNEB e integrante do programa Doutorado Interinstitucional (Dinter), que envolve um projeto de cooperação entre a universidade baiana e a USP.
Muito feliz em ler esse texto, muito grata pelo privilégio de ter tido o professor Ismar na minha banca e mais: muito satisfeita em ter entrado nesse caminho sem volta que é a educomunicação.
Parabéns Érica Daiane conheço a sua luta em prol de um salitre mais justo e igualitário. Daiane que foi minha aluna no ensino médio, lá mesmo no vale do salitre. Sucesso sempre! !!
Parabéns minha filha por mais uma conquista.Sou muito grata.Obrigado Senhor!
Parabéns amiga… sucesso!! Estamos juntas, espero que em muitas lutas e vitórias… você é a nossa alegria e orgulho!!!
Cada vez que o professor Ismar Soares visita Juazeiro da Bahia e o Vale do São Francisco nossas energias são revigoradas. As possibilidades de efetivação da BNCC através da Educomunicação foi um ponto forte nos diálogos ocorridos nesta última contribuição educomunicativa.