O termo Educomunicação surgiu em 1999 com o Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares, e sempre valorizou muito a educação como instrumento de libertação, conscientização e autonomia dos jovens, que, independente de sua classe social, histórico familiar ou da vida extra-escolar, podem se sentir ouvidos e valorizados, aprendendo do seu jeito, e sentindo que o que eles estão estudando faz sentido. Vimos isso com o Prof. Paulo Freire, que desconstruiu e reformulou a Educação Popular, que nascera como instrumento de dominação, e, graças a ele, hoje em dia anda de mãos dadas com a educomunicação e com a educação para a prática da liberdade, a educação democrática e que serve para mudar contextos sociais das classes mais baixas, gerando um impacto nessas comunidades, seja por meio da alfabetização de jovens e adultos, seja por meio da educação não-formal, que foge do currículo tradicional e cria todo um mundo novo para ser explorado por crianças, jovens e adultos dessas classes sociais. Tanto a educação popular de Paulo Freire, quanto a educomunicação servem para emancipar essas pessoas e criar a consciência da opressão que elas sofrem ao mesmo tempo que se cria também consciência de como sair dessa situação.
Evelin de Oliveira Haslinger, no seu artigo “A Interface da Educação e Comunicação para além dos muros da escola: educomunicação como práxis libertadora no contexto não-escolar” do livro “Educomunicação e suas áreas de intervenção: novos paradigmas para o diálogo intercultural”, faz a relação principalmente sobre o combate a educação bancária e conteudista, que aprisiona e impede os estudantes de se sentirem de fato curiosos e aprenderem sobre convivência, sociedade, colaboração e cidadania, ao invés, estando presos ao currículo tradicional, que os pressiona com conteúdos de vestibular, que não fazem sentido e, por isso, desmotivam grande parte dos estudantes que estão na escola regular. Ainda mais hoje em dia, com o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação, o auto-didatismo está muito mais comum, e as aulas tradicionais já não cabem mais com a geração de jovens que temos hoje em dia. Muitos estudantes inclusive não fazem nada na aula, e só pesquisam sobre o assunto depois, prestam atenção apenas o suficiente para saber qual tema está sendo discutido.
Ela ainda discute sobre a responsabilidade sobre essas mídias, e as questões sociais que trabalham o direito ao acesso a elas. Ou seja, com toda essa informação disponível na internet, por exemplo, há uma responsabilidade de torná-la acessível a todos, de democratizar esse acesso. Há muitos projetos sociais que se centram em disponibilizar essas tecnologias, e até a prefeitura de São Paulo já teve uma iniciativa nesse sentido, com os Telecentros que funcionam em muitos dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), ou as praças com WiFi aberto, que foram extremamente comuns durante a última gestão.
Entretanto, o principal projeto discutido nesse texto foi a Agência Jovem de Notícias, promovido pela Revista Viração. Essa revista funciona desde 2003, e sempre esteve principalmente na frente da democratização da informação e comunicação para jovens e adolescentes. A ideia era justamente criar um ambiente onde adolescentes e jovens poderiam se comunicar uns com os outros, fazer reportagens com uma linguagem que eles entendem, e tornar todo esse processo de comunicação mais acessível. A importância também de mostrar que não são só os adultos que são capazes de escrever e ler notícias, trabalhar com jornalismo também deve ser destacada, pois isso exercita a autonomia e capacidade crítica dos jovens e adolescentes.
Ter a tecnologia e o projeto certo para usá-la é importante, especialmente quando trabalhamos com classes mais baixas e lugares que estão acostumados a serem submissos e ter pouco ou nenhum ímpeto de mudança. Se mostrarmos que eles também podem criar, reportar e fazer seus próprios trabalhos, independente do que a sociedade diz e pensa sobre eles, eles podem se libertar um pouco mais dessa situação de oprimidos e se fortalecer através da união e integração. Além disso, é muito importante criar neles a consciência de que eles não são incapazes, inúteis, ou estão condenados a serem subalternos, porque só assim atingiremos o impacto social de verdade.
Para saber mais sobre esses trabalhos, baixe nosso livro em https://goo.gl/wHb63r ou https://goo.gl/gyCoV2 (abra o link e clique em download).