Texto: Bruno Ferreira
As contribuições de organizações da sociedade civil para a interface comunicação e educação são importantíssimas. Se resgatamos a história da identificação dessa inter-relação, observaremos que foi a sociedade civil, seja em movimentos sociais ou em organizações não governamentais, que inicialmente propôs iniciativas voltadas à transformação de realidades de exclusão a partir da comunicação e das mídias.
Uma dessas organizações é a Associação Cidade Escola Aprendiz. Fundada em 1997 pelo jornalista Gilberto Diemenstein, colunista de educação do jornal Folha de S. Paulo. Inicialmente portal, o Aprendiz, como é mais conhecida a organização, dedicava-se a produzir conteúdo jornalístico. A partir desse veículo, passa a desenvolver projetos e programas de defesa e inclusão de crianças e adolescentes à educação formal, bem como a sistematizar experiências educacionais, realizar integração entre escolas, comunidades e territórios, a partir do conceito de cidade educadora, que tem sido o carro-chefe da organização desde a sua origem, e comunicação para o desenvolvimento.
“A comunicação sempre foi uma das principais ferramentas de transformação social para o Aprendiz. Em todos os nossos programas e projetos, configura-se alguma forma do uso da comunicação para o desenvolvimento: educomunicação, comunicação para mobilização, comunicação para mudança de comportamento e/ou mídia advocacy. Acompanhar a transformação do perfil do público com quem conversamos, para garantir a estratégia mais apropriada para cada objetivo, é sempre um grande desafio, mas também, uma das partes mais prazerosas do trabalho, já que envolve conhecer o outro e se colocar no lugar dele”, explica Roberta Tasselli, gestora de Comunicação para o Desenvolvimento da Cidade Escola Aprendiz.
Entre os projetos e programas mais recentes da organização, Roberta destaca o Programa Aluno Presente, uma iniciativa voltada à redução da evasão escolar entre crianças entre 6 e 14 anos, no Rio de Janeiro. Uma das ações nesse contexto é a formação de grupo de mobilizadores, que buscam identificar na escola, a partir de instrumentos da comunicação, os interesses que os estudantes têm com relação à transformação do espaço escolar. “Eles recebem formação para fazer pesquisa nesse sentido e a partir dessa pesquisa eles decidem a ação que irão construir com a comunidade escolar e, para isso, fazem campanhas, programas de rádio como instrumento de transformação do espaço escolar”, explica Roberta. A metodologia aplicada no Programa Aluno Presente foi incialmente desenvolvida em outro projeto do Aprendiz, em parceria com o Instituto Unibanco, e foi adaptada para o programa, realizado entre 2014 e 2016, em 20 escolas cariocas.
Planetapontocom e a mídia e educação
Outra organização antenada com as necessidades da educação pública brasileira é a Planetapontocom que possui uma ampla atuação em rede de ensino do país, sobretudo na formação docente em mídia e educação, bem como em pesquisas de impacto das tecnologias na sociedade na educação, na sistematização de práticas exitosas e na sua disseminação. Atualmente, a organização tem atuado em Recife e no Rio de Janeiro, na formação de profissionais de 40 escolas das redes de ensino dessas cidades, a partir da qual incentiva a utilização de espaços e recursos escolares que, segundo Silvana Gontijo, idealizadora e presidente da Planetapontocom, são subutilizados.
“Essa é uma atividade que temos desenvolvido há dois anos e a gente agora desenvolveu não só uma cartilha eletrônica para os professores, para eles terem todas as informações de como desenvolver um espaço de mídia e educação nas escolas como também trabalhar de forma a estimular a interdisciplinaridade através da comunicação”, diz Silvana.
Para a presidente da Planetapontocom, as duas principais conquistas com o trabalho de educação midiática da organização foram: o desenvolvimento de uma metodologia própria de ensino, que têm como base não apenas a mídia e educação, mas também outros três campos do conhecimento, como matrix source, método sistêmico em psicologia social e educação interdimensional; e a produção de publicações, resultado das metodologias e pesquisas implementadas pela organização. Quanto aos desafios, Silvana destaca a dificuldade da educação em se abrir ao novo, bem como a pouca estrutura tecnológica das instituições públicas de ensino. “Como a gente trabalha como modelos diferentes, em escolas com pouca ou nenhuma tecnologia, a gente consegue hoje superar essas barreiras”, explica.
Serviço
O painel “Organizações da sociedade civil que atuam com educação midiática” acontecerá em 13 de novembro, das 13h30 às 16h15, na ECA/USP. Outros participantes que estarão presentes para contribuir com a reflexão do tema e compartilhar experiências são: Gabriel Priolli Netto, gestor do CENPEC – Centro Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, e Paulo Santiago, gestor da Associação Novo Olhar.
As inscrições para o II Congresso Internacional de Comunicação e Educação e VIII Encontro Brasileiro de Educomunicação, que vai de 12 a 14 de novembro, podem ser feitas pelo site www.abpeducom.org.br/congresso. As vagas são limitadas e há desconto para inscrições antecipadas.