Em destaque, Caio Higor e Jeferson Boldrini, coautores do artigo sobre a Rádio Mania de Alta Floresa |
Um dos paineis do Seminário de Educação (SemiEdu – 2014), com o tema “Educação e seus modos de ler-escrever em meio à vida”, ocorrido no campus da UFMT, entre os dias 23 a 26 de novembro, em Cuiabá, acolheu o trabalho acadêmico intitulado “Rádio Mania: um projeto de rádio escola em Alta Floresta”, abordando o desenvolvimento da prática educomunicativa na Escola Estadual Jayme Veríssimo de Campos Júnior, de Alta Floresta, no norte do estado do Mato Grosso.
O trabalho foi apresentado por Jefferson Boldrini, Caio Higor Alvarenga e Eduardo Medeiros, todos vinculados à Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat). O painel foi coordenada pelo professor Ismar de Oliveira Soares, Presidente da ABPEducom.
De acordo com os autores, a rádio escolar de Alto Floresta foi criada em 2004, como resultado da implementação do Projeto Educomrádio.Centro-Oeste, a partir de uma articulação entre o MEC e as Secretarias de Educação dos Estados da Região Centro Oeste, atendendo 80 escolas, 30 das quais, no estado de Mato Grosso. O curso na modalidade a distância, com atividades presenciais, foi implementado por especialistas do Núcleo de Comunicacão e Educação da USP, com a colaboração de profissionais de rádio e docentes da UFMT, entre 2003 e 2006. Ao todo, foram beneficiados 2.800, entre professores e estudantes dos três estados.
Segundo o relato apresentado pela equipe de pesquisadores, a atividade da Rádio Mania visa a inclusão pessoal e coletiva dos alunos, funcionando em sistema rotativo/rodízio, atendendo diretamente a 50 alunos através de sua programação diária. Desde o início de sua execução, em 2004, até o momento, estima-se que 650 alunos tenham participado da elaboração dos programas. Além da produção radiofônica, o projeto contempla a confecção mensal de um informativo escolar de circulação local, denominado Jornal Interagir.
De acordo, ainda, com a informação prestada pelos pesquisadores, o projeto contou com a ajuda do governo do estado/MEC no momento de sua implantação, mas agora subsiste com a ajuda do Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar. Entre as dificuldades encontradas está a obsolescência dos equipamentos que precisam ser renovados.
Educomrádio e a comunidade Xavante de Sangradouro
A implantação do Projeto Educomrádio.Centro-Oeste, em 2003, ocorreu em decorrência do êxito do Educom.rádio nas escolas do município de São Paulo, entre 2001 e 2004, onde formou aproximadamente 11 mil, entre professores, alunos e membros das comunidades educativas de 450 escolas do ensino fundamental, para o emprego do conceito da educomunicação nos espaços das escolas públicas. A implantação de programa semelhante nos Estados do Centro Oeste veio da decisão do governo federal em oferecer um suporte teórico-metodológico que fortalecesse o programa já existente, denominado de Rádio Escola.
A expectativa do NCE, ao aceitar o desafio, foi a de aplicar uma nova metodologia de trabalho na difusão do conceito da educomunicação pelo pais, mediante o uso de uma plataforma de EaD, ao que se somou a realização de seminários em cada estado e de oficinas presenciais, nas unidades escolares, além da produção de material impresso, especialmente para dialogar com os adolescentes e jovens (“Cadernos da Galera”). Em Mato Grosso, foram atendidas escolas dos principais centros urbanos, de assentamentos de sem terra (MST), de comunidades quilombolas e de aldeias indígenas.
As experiências educomunicativas no estado do Mato Grosso geraram casos que chamaram a atenção dos observadores, como a formação oferecida à comunidade Xavante, nas aldeias de Sangradouro, mobilizando uma competição entre os jovens de ambos os sexos na produção radiofônica, favorecendo as meninas que, pela tradição desta etnia, não poderiam estar se expressando publicamente diante de audiência masculina. No caso específico, o rádio produzido pelos jovens indígenas de ambos os sexos acabou abrindo espaço para que a direção da escola, criada e mantida pelos Salesianos, há mais de cem anos, fosse entregue à um pedagogo xavante, que estudava em Cuiabá, tendo o mesmo sido chamado à aldeia para assumir o posto. É importante lembrar que as irmãs salesianas e os sacerdotes salesianos haviam igualmente optado pelo conceito da educomunicação, na América Latina, a partir do encontro realizado pelos dois braços da família de Dom Bosco, em Cumbaiá, Equador, no ano de 2002.
Na atualidade, os Xavantes são reconhecidos como excelentes produtores de documentários em linguagem audiovisual, graças à participação em outro projeto também implantado a partir da liderança da ECA/USP, sob a coordenação do Prof. Sérgio Bairon.
Do Educom.rádio à Rádio Escola
Após o encerramento da presença do NCE no processo formativo vinculado ao Educomrádio.Centro-Oeste, a Assembléia Legislativa de Mato Grosso aprovou uma lei, nos moldes da Lei Educom, de São Paulo, tornando a educomunicação referencial para a continuidade do uso das tecnologias da comunicação nas escolas do estado. Contudo, com a implantação do curso da distância Mídias na Educação (para professores, a partir de 2008) e do Programa Mais Educação (para grupos de alunos, a partir de 2010), as iniciativas vinculadas à lei foram perdendo paulatinamente espaço no planejamento da SEDUC.
As normas para a continuidade do uso do rádio passaram, a partir de então, a advir das orientações do MEC para o Programa Rádio Escola, presentes no manual do macrocampo “Comunicação e o Uso de Mídia”, do programa Mais Educação. Os próprios professores passaram a ter acesso à formação ministrada pelo curso Mídias na Educação, outro programa do MEC.
No entanto, apesar da distância temporal e geográfica, o NCE/USP manteve-se indiretamente próximo ao processo formativo dos professores do estado, levando em conta a participação do Núcleo da USP na produção de suportes audiovisuais para a “mídia rádio” do curso Mídias na Educação, ou ainda no fornecimento de referenciais para o manual do Mais Educação, que fez uso dos resultados das pesquisas do NCE para a construção do fundamento teórico-metodológico oferecido às escolas do Brasil para o uso das mídias na escola.
ABPEducom
Um grupo de professores de escolas públicas e privadas do estado do Mato Grosso, presente ao SEMIEDUC tomou parte da sessão que criou o Regional Centro Oeste da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais da Educomunicação, ocorrida na manhã do dia 25 de novembro, comprometendo-se a retomar um diálogo coma SEDUC a respeito da prática educomunicativa, colaborando, por outro lado, com um futuro levantamento sobre a presença da prática educomunicativa em estabelecimentos de ensino básico do estado. A iniciativa foi proposta pela professora Antonia Alves Pereira, da Universidade do Estado do Mato Grosso, campus de Alto Araguaia, diretora de comunicação da entidade e coordenadora do novo Regional.
Educomunicação integra as discussões do SemiEdu 2014 conforme registro de matéria do Jornal Folha do Estado |